O telefone tocou estridentemente ao meu lado, no
criado mudo, como se fosse a coisa mais natural do mundo, mas não era.
Geralmente, quando queriam falar comigo ligavam-me diretamente em meu celular,
mas, provavelmente, esse estava sem carga. Eu não duvido ter esquecido de
colocá-lo na tomada uma vez que chegara tarde da noite, o que se tornara muito
frequente nos últimos tempos.
Estava acumulando trabalho para não ter que pensar
muito na minha vida pessoal. Queria evitar problemas para mim, principalmente
após a notícia chegar aos meus ouvidos pelo próprio Edward. Ele queria um
parecer meu, mas eu me recusei pelo simples fato de que eu sabia que ele não
seguiria meus pareceres. Eu conhecia as pessoas da laia de Isabella Swan e eu
sabia, igualmente, que daquele relacionamento não saia nada saudável além de um
casamento que acabaria em divórcio apenas por conta do dinheiro que a família
Cullen trazia consigo.
Estiquei minha mão em direção ao telefone sem fio na
cabeceira, colocando o travesseiro sobre a minha cara para tentar esconder o
sono de mim mesma. Isso não ajudou em nada quando falei, pois minha voz saiu
rouca, demonstrando que eu estava com sono, mas ao mesmo tempo mostrando-me que
eu teria uma dor de garganta – e, consequentemente, uma gripe – em breve.
— Quem ousa me acordar a essa hora?
— Essa hora? — disse ignorantemente a pessoa do
outro lado da linha, a quem rapidamente creditei Carmen, minha mãe. — Eu
costumo deixar você dormir até um pouco mais tarde geralmente, quando você
trabalha muito, mas creio que esqueceu que daqui a uma hora e meia terá uma
audiência e você nem parou no escritório para pegar os documentos.
— Audiência? Que audiência?
— Volturi, Alec, contrabando de…
— A AUDIÊNCIA!
Desliguei o telefone imediatamente, sentindo meu
coração sair pela boca. Eu não queria me envolver com a família Volturi e,
tampouco, com os seus serviços ilegais, mas eu sabia bem que eu precisava fazer
isso se não quisesse meu pescoço cortado ao meio. Todos nos Estados Unidos
sabiam o quão perigosos eram os seres daquela família e não seria eu a pessoa a
testá-los. Eu era sã o suficiente ou me julgava dessa forma, ao menos. E se
eles me julgavam a melhor advogada criminalista no momento, eu não seria aquela
a contrariá-los. Ao menos, eu podia me vangloriar e dizer que meus processos
criminalistas sempre eram ganhos, mas eu estava extremamente cansada de fazer
os demais acreditar em mim.
Entrei no chuveiro rapidamente, buscando apenas molhar
meu corpo para tirar a leseira que sentia devido o meu sono, e eu sequer
precisava procurar uma roupa apropriada para aquelas ocasiões frustrantes – meu
armário era tomado em sua maior parte por tailleurs, portanto o primeiro que eu
pegasse me tornava apresentável. Eu não me importava.
Quando sai do meu quarto, carregando o par de saltos
na mão, Irina me olhou com cautela. Eu não precisava falar nada para ela, já
que sabia muito bem que se ela puxasse assunto, seria capaz de sair sem cabeça
daquela conversa. Tanto quanto eu, minha irmã sabia o quão eu estava atrasada,
mas tampouco fizera qualquer coisa para me acordar. E ela sabia o quão irritada
eu ficava com atrasos.
— Não vai tomar café da manhã? — perguntou,
finalmente, quando coloquei os sapatos.
— Como qualquer coisa na rua.
— Sabe por quanto tempo a audiência se prolongará?
— Você está me perguntando uma coisa imprevisível,
como sempre.
— Estressada… Eu não sei se é melhor você ir para sua
audiência — a mulher loura, sentada a cabeceira da mesa disse, abaixando seu
olhar para as torradas, com um ar de nojo, quase rejeitando o café da manhã que
Senna preparara. — Tem mais: depois que você desligou o telefone, a mãe ligou
aqui de novo e disse que vai levar as papeladas no Tribunal para você; então
faça o favor de se sentar, porque de barriga vazia você não vai ficar hoje, ok,
Senhorita Denali?
Revirei os olhos diante o melodrama de minha irmã. Era
tão fácil ocupar o cargo que ela ocupava e trabalhar a maior parte do tempo em
casa. Ser chefe de redação era uma maravilha, ao meu ponto de vista, se era
para ser igual ela é.
Imediatamente, Senna deslocou-se do canto da sala de
refeições e serviu-me com salada de frutas e suco de laranja. Novamente, mas
dessa vez pelo canto do olho, vi que minha irmã estava fazendo cara de nojo,
mas dessa vez porque queria uma refeição semelhante a minha. Na verdade, ela
detestava tudo o que Senna fazia para ela, achando que tudo o que nossa
empregada fazia estava de contragosto a suas ideias. Eu, sinceramente, estava
pouco ligando para as frescuras da mimada da minha irmã; afinal, tudo era culpa
de Eleazar, nosso pai, e em breve, muito em breve, ele se veria comigo – que
ele levasse as malas de Irina de volta para casa…
Percebi que estava com muita fome assim que sorvi o
primeiro gole do suco. Meu estômago parecia se apertar mais e mais, e eu senti
que não somente aquela refeição me seguraria até meio-dia. Eu precisava de
muito mais que aquilo, mas eu não conseguiria parar para almoçar. Previa que os
Volturi logo iriam conversar comigo, muito seriamente.
— Senna, você pode… — eu comecei.
— Eu já preparei, senhora. Hoje o dia não será fácil,
eu creio.
— Muito obrigada.
Rapidamente, terminei meu café da manhã e voltei para
o banheiro com o intuito de escovar os dentes. Algo em mim falava que eu estava
totalmente atrasada para o bendito julgamento. E tudo o que eu menos queria era
provocar a fera – e quando eu me refiro desse jeito, não estou falando de minha
mãe, mas sim dos Volturi.
— Boa sorte… — desejaram as duas mulheres antes de eu
sair da sala de refeições.
Eu acenei para elas antes de partir para o hall do
apartamento. As chaves do meu carro estavam sobre o aparador, junto ao lanche
que Senna havia separado para mim em uma lancheira térmica, e eu esperava muito
que ela, após as dicas que eu lhe dera, não tenha errado a mão e colocado nada
que envolvesse carne em minha comida. Eu era vegan desde meus vinte anos e,
portanto, quase dez anos se passaram desde então; não seria nada bom se eu
quebrasse a minha rotina alimentar com qualquer tipo de carne – isso só me
faria ter um ataque com a minha empregada e ela não era merecedora disso.
Por algum milagre – já que eu não era esquecida
constantemente –, eu me lembrei que a cidade estaria parcialmente vazia naquela
parte da manhã devido as manifestações que ocorriam no lado norte da cidade.
Desse modo, foi muito fácil chegar ao tribunal. As ruas não estavam vazias, mas
eu cheguei um pouco mais rápido no local.
O problema era basicamente ultrapassar o cerco ao
redor do Tribunal. Parecia muito simples se assim falado, mas, por medida de
segurança, fizeram um cerco policial para evitarem manifestantes. Muito se
dizia que a passeata era sobre o julgamento do Volturi, mas eu não estava com
paciência suficiente para acompanhar aquilo pelo rádio enquanto seguia para o
tribunal, já que aquilo só me deixaria ainda mais apreensiva. E já bastava.
Um policial com identificação veio em direção ao meu
carro, fazendo-me abaixar o vidro do mesmo. Ele não era tão mais velho que eu e
seu nome era Samuel; e ao meu ponto de vista, ele não era nada atrativo.
— Identificação…
Eu sempre tinha meu ID perto de mim, não importando as
circunstâncias. Eu sabia que ele estava no porta-luvas do carro, já que eu o
havia deixado ali na noite passada, então fui em busca dele. E assim que eu o
estendi, seus olhos me fuzilaram de um modo que me deixara assustada – ainda
que eu soubesse esconder meus sentimentos pelo tempo que eu tinha de
experiência no assunto, por causa da minha profissão, que precisava me deixar
agir fria e calculosamente –, mas ao mesmo tempo me causou um pouco de repulsa
de mim mesma pela imagem que eu estava me tornando ao assumir aquele caso. Não
que eu quisesse, mas de alguma forma me senti pressionada a fazê-lo – não pela
minha família, mas pela minha própria mentalidade, que sempre buscou coisas
fora do comum para fazer.
— Boa sorte — a voz do sujeito amenizou sua carranca,
como se quisesse me informar. — Você já sabe das notícias?
— Eu não estava ouvindo as notícias no rádio.
— A manifestação está se deslocando para cá. Em
algumas horas, ao decorrer do julgamento, os protestantes virão até aqui para
acompanha-lo. No final das contas, foi ótimo que decidissem pelo julgamento à
portas fechadas.
Eu teria falado alguma coisa se não fosse uma policial
impedir a atenção daquele sujeito, que tornou a ser dominado por uma carranca
ao me devolver minha identificação. Ele mesmo acabou me orientando a seguir em
frente. E aquilo me deu calafrio.
Não me deu calafrio o fato de eu precisar seguir em
frente, mas sim por ver sair de um carro preto, um BMW provavelmente, o
patriarca da família Volturi, Aro, sendo guiado por sua filha mais nova, Jane e
seu motorista, Felix. Eu preferi seguir em frente e estacionar o mais perto
possível do outro estremo da barreira policial. Assim, eu possivelmente
evitaria um encontro com aqueles sujeitos antes de entrar no tribunal. Já não
bastava o meu cliente me olhar com seu jeito bruto todas as vezes que eu
precisava me encontrar com ele?
Estacionei meu carro no
local em que outro policial me indicou. Daquela forma, quando abri a porta de
meu carro e sai do mesmo, ele me seguiu até a entrada do Tribunal, tentando me
proteger. Ele era tão ou mais sisudo que o outro policial com quem falei, mas,
de qualquer forma, era mais bonito e muito mais forte também. Era visível sua
identificação: Jacob Black era seu nome. Só que mesmo belo, não fazia o meu
porte: eu não gostava muito de New Yorkers –
havia algo nos caras nova-iorquinos que eu não conseguia digerir muito bem.
Eu estava afoita ao
mesmo tempo que estava nervosa. Eu sentia minhas mãos ficarem um pouco úmidas,
ainda que soubesse que uma conduta como aquela geralmente não era tomada pelos
advogados, mas era o de menos. Caso eu perdesse aquele julgamento, eu
certamente seria tomada pelos seguranças dos Volturi e eles me matariam em
qualquer beco perto daquele tribunal, fazendo parecer que aquilo foi um
acidente causado pelos manifestantes que vinham até ali apenas para me
trucidar. Ora, eu não tinha motivos para ficar nervosa, não é mesmo?
Os minutos seguintes foram cruciais para decidir meu
estado nervoso. Quando segui para a sala de julgamento, Alice esperava-me à
porta e sua cara era de pouquíssimos amigos, logicamente. Ainda que fosse minha
prima, ela detestava ser forçada a seguir a carreira de todos os membros de
nossas famílias, apenas para continuar com os nossos escritórios; apenas seguia
com isso porque já tivera muito dinheiro em risco e seus pais, por mais dóceis
que fossem, não gostariam nada de ver sua filha pródiga lhes contrariando para
fazer uma faculdade que raras vezes – exceto se você nutrisse amizade com
celebridades – trazia dinheiro a sua vida. Era por isso que Alice virara minha
auxiliar; e logicamente detestava tudo isso.
— Aqui está sua pasta, sua irresponsável — ela disse,
me fuzilando. — Estava em cima da sua escrivaninha e eu devo receber um aumento
por trazê-la até aqui.
— Para de melodrama, Alice; você recebeu um aumento no
último mês — respondi, revirando os olhos.
— E isso não deu nem para comprar meu óculos da Dolce
& Gabbana.
— Eu vou pensar no seu caso. Quero você me auxiliando
— e eu percebi que ela retrucaria, continuei, erguendo meu dedo indicador: — e
eu sei que você está em férias da faculdade; portanto, se for o caso, você
ficará comigo no Tribunal até tarde.
— O quê? Ficou maluca? Eu combinei de sair com a Kate!
— Essa saída pode acontecer amanhã, não pode?
— Tudo bem, tudo bem! — ela falou, irritadiça, mas ao
mesmo tempo vendo que ela não tinha nada para fazer sobre o assunto. — E o que
a senhora — Alice bradou, irônica — quer que eu faça?
— Sente-se no Tribunal para acompanhar o julgamento.
Daqui alguns meses, essa será a sua vida e eu estou te dando um banquete em
mãos. O julgamento é fechado, para pessoas selecionadíssimas, mas como você é
minha assistente, eu já coloquei seu nome na lista.
— A chefia é quem manda — completou, emburrada.
As duas, imediatamente, se puseram à frente da porta
da sala de julgamentos, que logo foi aberta pelos policiais. A sala
encontrava-se quase por completo vazia, exceto pelos poucos Volturi que ali
estavam e o Procurador Distrital da Comarca de Nova York. Ele era o homem que
fazia-me tremer de nervoso. Quando revelaram-me que ele seria àquele que
estaria ao lado do Governo, a primeira coisa que pensei foi em um álibi e ele
estava lá quando eu precisava, esperando o momento certo para sua entrada. E
nós, os Volturi e eu, sabíamos muito bem que James, o Procurador, faria de tudo
para não rejeitar os mínimos detalhes daquele julgamento.
Entretanto, era de praxe que nós nos cumprimentássemos,
não apenas por conta da nossa profissão, mas por sermos educados e não nos
importava quem estava do lado da lei ou não. Infelizmente, a minha profissão de
advogada criminalista exigia isso de mim e eu precisava fazer aquilo, correndo
os riscos que corria. E isso poderia não me trazer uma fama muito boa, mas eu
era admirada e reconhecida como a melhor na minha área, tal qual um dia meu pai
também fora antes de se aposentar.
— Boa sorte — eu o disse.
Os olhos dele, sempre muito claros, faiscaram naquele
momento.
— Boa sorte também e espero que esse seja seu último
julgamento na posição em que se encontra atualmente.
— Não por menos; eu estarei em breve assumindo o cargo
que tanto me esperou.
Ele sorriu de uma forma que eu não soube distinguir se
era ironia ou um galanteio. Entretanto, ele sempre soube que buscava muito mais
que simplesmente ficar estagnada em um escritório, defendendo clientes
arruaceiros, como era o caso de Alec Volturi. E eu estava a apenas um passo de
assumir meu lugar como juíza; só bastava assumir o cargo, afinal o resultado já
saíra.
— Novamente, boa sorte; por essa e suas próximas
conquistas.
— Obrigada.
Nós demos as costas um
ao outro e assumimos nossos devidos postos. Eu sentei-me à mesa em que costumam
os réus sentarem-se também, enquanto ele permaneceu em pé. Pouco em seguida,
fora anunciada a entrada da juíza e a do réu, que sentou-se ligeiramente ao meu
lado – seus pulsos sendo presos com algemas. Eu notei a aflição do rapaz, ainda
que, quotidianamente, nas manchetes, não fosse aquela a imagem demonstrada por
ele: constantemente, aquele jovem rapaz de dezenove anos aparecia na capa dos
jornais com a sua irmã gêmea, Jane – que o esperava sentada ao lado do pai –
como jovens irresponsáveis e mimados; daquela vez, a imagem demonstrada por
Alec e Jane era um pouco temerosa, como se não tivessem noção do que o ato
acometido pelo jovem significava. Narcotráfico significava muito para a nação
estadunidense e eles não aceitavam, ainda mais partindo de uma família exemplar como os Volturi. Era quase
inadmissível eu aceitar tal fato.
Quando a juíza mandou, todos ficaram em pé.
Certamente, não eram muitas pessoas, mas ainda assim, as mesmas eram obrigadas
a fazer. Daquela forma, a juíza pediu para que todos tornassem aos seus lugares
para que ela começasse a descrever o motivo do julgamento. Claramente, eu
tentava segurar meu nervosismo apertando meus dedos da mão direita em meu
punho, mas isso só me deixava pior e a ponto de reclamar de dores por conta das
minhas unhas longas; era verdade que eu preferia isso a ter que demonstrar meus
ataques à James – sua influência contava muito em relação ao meu novo cargo.
— Que entre a primeira testemunha — apregoou a juíza.
Guiada por um policial alto, a primeira testemunha era
uma mulher. Cabelos escuros, pele clara e olhos azulados; aparentava ter trinta
anos; usava saltos e vestia como uma mulher de classe. Eu sabia quem era ela
porque seu nome estava nos jornais nos últimos dias. Era a ex-secretária de Aro
Volturi, que fora demitida a pouco por sua “falta de capacidade”, como
explorara o próprio empregador anteriormente. Ela estivera-o acusando de não
pagar seu salário há bons meses, além de causar-lhe humilhação constantemente;
ele entrou em processo contra ela por calúnia. O nome dela era Heidi.
Ela se sentou no lugar das testemunhas e ali mesmo
prestou juramento.
Em seguida, o promotor distrital se aproximou da jovem
e começou a dizer:
— Senhora Seear, primeiramente queremos que o tribunal
saiba seu papel como testemunha ocular e que o Estado legou-nos permissão de
trazê-la até aqui ainda que esteja envolvida em outro processo ligado a família
Volturi. Você conhece o réu, Alec Volturi?
— Sim, senhor — ela disse, um pouco nervosa, guiando o
seu olhar com cuidado à mesa em que eu estava com meu cliente e depois voltando
novamente para o promotor.
— Há quanto tempo? — tornou ele a perguntar. — E qual
é o teor do relacionamento entre vocês?
— O conheço há quase dez anos, senão mais. Comecei a
trabalhar para o pai de Alec quando o mesmo tinha oito anos; tinha dezenove
anos naquela época.
— Qual era o tipo de trabalho que fornecia para o Sr.
Volturi?
— Cuidava de toda a parte que cabia a uma secretária;
às vezes, ia além disso.
— “Além disso” como?
— Contesto — disse, levantando-me de minha cadeira, um
pouco aborrecida.
— Contesto aceito. Senhor James, mais cuidado com o
tipo de perguntas que faz. Essa não é a primeira e tenho certeza que não será a
última, portanto reformule a pergunta que acabou de fazer para a testemunha —
disse a meritíssima, também nada contente com a pergunta feita pelo promotor
distrital.
O homem respirou fundo antes de dar continuidade, tão
nervoso quanto eu. Por fim, deu dois passos para frente e ficou ainda mais
perto da testemunha. Assim, olhando mais profundamente nos olhos daquela
senhorita, ele conseguiu pensar em uma forma de se anunciar.
— Expresse-se melhor.
— Eu era o braço direito e esquerdo do senhor Volturi
— disse Heidi, segura de si. — Se eu não estivesse ao lado dele, acho que era
capaz de o mesmo ter um enfarte, sendo bem sincera. Eu separava os remédios
dele; cuidava da agenda de negócios dele; e estava por trás de tudo que ele
necessitasse. Às vezes, eu cuidava de tudo o que estava ligado a vida pessoal
dele e não apenas o que estava ligado a família dele — ela disse, observando o
sujeito sentado mais ao fundo e eu tive quase certeza de que ele estava a
fuzilando. — Caso ele tinha um desafeto, a primeira pessoa que ele recorria era
eu; ele mandava que eu colocasse ordem na situação, mas não que eu fosse atrás
da pessoa para matá-la ou coisa do gênero, até porque, mesmo se ele me pedisse,
eu não seria sangue frio o suficiente para fazer isso.
— Prossiga… — disse o promotor.
— Contesto! — eu me pronunciei novamente, erguendo-me
de meu lugar novamente de tão irritada que eu estava. — Meritíssima, esse é um
processo sobre Alec Volturi e não sobre a vida do pai do mesmo.
— Contesto aceito novamente. James…
— Perdão, meritíssima — ele disse, parando de observar
a testemunha ligeiramente e tornando a olhar para mim com seu olhar faiscante,
como se dissesse que eu me veria com ele; eu só fazia o que eu fora paga para
fazer. — Como era a índole do jovem Alec enquanto você trabalhava para o pai do
mesmo?
— Ele teve exatamente de tudo em sua vida. Mimado, mas
talvez um pouco menos que a irmã, por motivos óbvios – ele é homem e, portanto,
deve seguir com os negócios da família. De qualquer forma, sempre teve tudo o
que quis e a isso inclui-se coisas ilícitas.
— Com isso, ele foi pego com uma quantidade
considerável de coisas ilícitas junto à si enquanto embarcava para a Itália,
seu país natal.
— Exatamente e essa não é a primeira vez, entretanto.
James não escondeu o horror falso que trazia consigo.
Ele já vira quadros como aquele diversas vezes em sua vida, por mais curta que
fosse a sua carreira. Além do mais, aquele teatrinho descabido era ridículo;
mas eu não me articularia sobre o assunto – minha objeção seria negada, eu
tinha certeza.
— Haviam outros negócios que o rapaz Volturi estava
envolvido?
— Logicamente: ele não carregava consigo somente
drogas, mas também armas, ainda que não tivesse licença para carrega-las.
Muitas delas passavam primeiramente nas mãos de seus seguranças ou até mesmo do
seu motorista, Felix; quando assim não eram, as mesmas passaram nas mãos do
próprio pai ou dos tios, Caius e Marcus.
O promotor não mediu suas palavras ao falar as
palavras seguintes:
— Os demais acusados de um processo semelhante à esse,
aos demais Volturi, a senhora Anthenodora e seu esposo, tio de Alec, Caius, tem
algo a mais envolvido nesse processo?
— Sim. Alec foi apenas um alicerce para que os demais,
na verdade, escapassem; os culpados de fato são Anthenodora e Caius, os grandes
influenciadores do rapaz Alec.
O poder em mãos de James caiu por terra naquele
momento, mas ele mesmo não imaginava aquilo. Era triste para ele que em anos,
ele estivesse perdendo um julgamento no seu início por uma escorregadela de sua
testemunha. Entretanto, eu não daria aquela apreciação por vencido, afinal
acometer isso seria um erro crítico.
Era visível que James apertava a palma de sua mão por
conta da abertura que dera aquela sua testemunha, mas eu tinha certeza de que
ele não poderia fazer mais nada com a senhora. Ele estava nervosíssimo.
— A testemunha é sua, Denali — ele disse, virando-se
cento e oitenta graus em seus calcanhares para fixar-me os olhos. De tão
nervoso, ele estava completamente vermelho.
— Obrigada, senhor Gigandet — eu me pronunciei não tão
tranquila.
Era verdade que Gigandet poderia, a qualquer momento,
dar a volta por cima, pois facilmente ele tinha o poder de persuasão sobre as
pessoas. Dessa forma, eu me ergui de minha cadeira, ao lado de meu cliente, e
segui para o mesmo lugar que James esteve anteriormente, podendo ver as faíscas
de mentira nos olhos de Heidi. Ela era uma grande jogadora; era uma pena que o
procurador não chegou a ver isso.
— Senhora Seear, você afirma a situação apresentada
anteriormente?
— Afirmo. Por mais mimado que Alec seja e mesmo que o
legado de seu pai seja seu a posteriori, posso até mesmo chama-lo de ignorante
perante alguns assuntos; senão, inocente. Ele é facilmente influenciável; bobo.
— Isso se deve ao fato de o pai trabalhar muito e não
dar atenção aos filhos, ainda que a esposa, Sulpicia, tenha falecido anos
atrás?
— Provavelmente sim e eu já percebi isso quando
comecei a trabalhar para Aro Volturi; eles eram comprados constantemente com
presentes e viagens caras apenas para ressarcir a distância do pai. E confesso
que a maior parte das vezes, eu me encarregava deles ou, simplesmente, ninguém
o faria; nem mesmo as babás deles. Talvez eu fosse uma das poucas, senão a
única, que me importava com eles. Muitas vezes, até, coloquei-os para dormir,
levei-os ao médico ou ao parque.
— E após a entrada do mesmo na adolescência, como foi
a índole do réu? Permaneceu a mesma?
— Não por totalidade. Como disse anteriormente, ele é
facilmente influenciável. E assim continuou e provavelmente é assim que ficará;
e se duvidar, ele se casará, inclusive, com uma mulher fria e manipuladora — a
testemunha suspirou fortemente antes de continuar, demonstrando que aquele
cansaço não era somente físico, mas também psicológico. — Anthenodora era a
única imagem feminina próxima dele e que pertencia a família dele; assim, tão
logo, ele foi se aproximando mais e mais da tia. E quem mais serviria para si,
para envolver seus negócios, que não Alec? O filho dela com Caius não seria o
envolvido no caso de contrabando, obviamente.
— Juíza, eu não tenho mais nada a dizer — anunciei,
afastando-me com passos curtos antes de me virar e seguir para o meu lugar
habitual ao lado de meu cliente.
— Senhora Seear, você está dispensada — pronunciou-se
a juíza. — Que entre a próxima testemunha.
Rapidamente, Heidi saiu de seu lugar sendo guiada por
um policial até uma sala reservada, longe das demais testemunhas. Em seguida, o
lugar da testemunha foi tomado por uma mulher com traços expressivos, olhos
escuros, assim como seus cabelos. Logo reconheci a pessoa; Renata, cujo
sobrenome poucos conheciam, era a ex-esposa de Aro.
— O que essa sujeita está fazendo aqui? — perguntou,
com a voz baixa, mas claramente irritada, o meu cliente.
— O Promotor Distrital a convocou como testemunha.
— Ela é um álibi para ele. Estou perdido. Essa mulher
me odeia.
Não estava, se dependesse de mim. Eu não costumava
deixar os meus clientes na mão.
Com o passar do
julgamento, Renata descreveu, sob o pedido de James, um pouco mais sobre a vida
de Alec e Jane, mas não com tanta precisão quanto Heidi anteriormente fizera ou
ao menos não com tanta precisão como o Promotor de fato queria. Logicamente, havia
uma rede de mentiras ali nas mãos da ex-esposa de Aro Volturi que ela não
queria expor, talvez porque aquela situação fosse combinada anteriormente com o
próprio Promotor. Eu não exporia mais o meu cliente através da palavra Contesto; eu sabia
em que canto estava me enfiando e mesmo que os Volturi imaginassem que eu não
estava fazendo nada para proteger meu cliente, eles estavam muitíssimo
enganados; as cartas estavam em minhas mãos – bastava que eles confiassem em
mim.
Os jurados pareciam ter a mesma posição que eu,
afinal, a cada momento, parecia mais que Renata estava com mentiras e mais
mentiras em suas mãos. Ponto para o meu cliente, novamente. A ex-Volturi levou
exatamente uma hora e meia para descrever seu testemunho.
Apenas tornei a me pronunciar quando o Promotor
Distrital, entediado, anunciou que a testemunha estava novamente em minhas
mãos. Faltavam menos de meia-hora para o almoço, mas eu, quando disposta,
poderia fazer as ideias expostas em um Tribunal cair por terra. E logicamente,
naquele caso, não estava nada difícil.
— Bom dia, Senhora Smythe. Eu serei direta nas minhas
perguntas. Quanto tempo você conviveu com a família Volturi?
— Aproximadamente dois anos.
— E nesse meio tempo como foi o seu relacionamento com
Alec: ótimo, péssimo ou razoável?
— Péssimo.
— Existe algum motivo em específico nessa história,
Senhora Smythe?
— Não que eu tenha percebido ou não que eu tenha
avaliado, na verdade. Ao que parecia, Alec e Jane não gostavam de mim
unicamente porque achavam que eu substituiria o papel que era pertencente a mãe
deles, quando a minha intenção jamais foi essa.
— Tem certeza de que é unicamente por isso?
— Creio que sim.
Suspirei, cansada. Tribunais não eram lugares para se
crer; você não podia ser inflexível e mesmo ela tendo feito juramento, ela o
foi, cometendo um longo deslize.
— Você tem certeza do que fala?
— E…
— Sim ou não?
— Não.
— Você está dando um falso testemunho e está ciente
disso, Senhora Smythe, ainda que tenha feito um juramento.
— Mas…
— Todos nós sabemos que o relacionamento que teve com
Aro Volturi não passou de um ano, dentre namoro, noivado e casamento, o que não
foi suficiente para julgar o caráter de Alec, ainda mais quando ele era uma
pessoa que estava entrando na adolescência — eu disse, virando-me daquela vez, para
a Meritíssima. — Eu não tenho mais nada a perguntar.
Naquele momento, faltavam menos de dez minutos para
meio-dia e eu estava mais que cansada. O sono acumulado não precisava me cair
naquele horário; era demais. De qualquer forma, o recesso sempre se dava a
partir do meio-dia e eu precisava descansar em algum lugar, nem que fosse por
dez minutos.
A Meritíssima pareceu ouvir meus pensamentos.
— A sessão está suspensa até às duas da tarde.
Fui a última a me erguer naquele tribunal. Meus pés
doíam, assim como a minha cabeça, por causa da enxaqueca que sempre tive e que
se agravava consideravelmente no que se tratava à claridade. Essas dores de
sempre me obrigaram a colocar minha cabeça entre minhas mãos, na tentativa de
massagear minhas têmporas, ainda que soubesse que artificio tal não melhoria
meu estado em nada. Meu estresse era o culpado daquilo.
Eu ouvi meu cliente sendo levado para sua sala
habitual e virei minha cabeça ligeiramente para vê-lo partir. Não muito depois,
Alice já estava ao meu lado, parada, como se esperasse que eu lhe desse uma
bronca; logicamente, eu não estava com forças para isso e se ela não havia
percebido, eu também não tinha força alguma para estar naquele lugar. Isso
parecia o de menos para minha priminha querida, pelo visto: sua vida era regada
de coisas fúteis e ela achava simplesmente que proteger um cliente nos
tribunais era uma coisa simples; o dinheiro que ela gastava vinha sempre
daquilo.
Quando a olhei, seu olhos brilhavam com uma certa
admiração, ainda que eu sentisse-me um pouco incapacitada. Eu apenas soube como
conduzir um julgamento e fazê-lo ir ao favor do meu cliente, afinal as
testemunhas que o Promotor escolhera foram péssimas.
— Tanya…
— O que é, Alice? — disse, deixando minhas mãos caírem
sobre a mesa a minha frente, obrigando-me a sustentar meu olhar em seu rosto,
como se aquilo fosse a coisa mais agradável a se fazer. — Minha paciência está
um pouco esgotada, se você não percebeu.
— Não é isso — ela argumentou. — Eu preciso falar com
você e de preferência, longe daqui.
Suspirei. Alice era uma garota que conseguia me tirar
facilmente a paciência, mas ela era, igualmente, uma jovem iniciante que nada
sabia sobre a vida e, tampouco, sobre a profissão que a esperava. Aquilo não
era o sonho dela e sim um sonho que lhe desejaram, então eu não podia esperar
muito dela, ainda mais ela sendo uma jovem. Não era a mesma coisa que eu
esperei para mim a vida inteira.
— Ok. Eu não posso sair das mediações do Tribunal,
então…
— Vamos conversar no meu carro. Ali, dificilmente, um
segurança dos…
— Aham! — interrompi-a. — Alice, você precisa andar
mais comigo e aprender certas coisas sobre o mundo judicial. Você ainda é uma
pedra bruta e tudo o que você aprendeu comigo no escritório exige atenção
especificamente nesses momentos.
— Desculpe-me, Tanya — ela disse, dando ênfase em meu nome
com certa irritação, como se estivesse detestando o fato de eu, além de ser sua
prima, ser sua chefe.
Eu ergui-me de minha cadeira, demonstrando o tédio de
sempre, e segui aquela garota para fora da sala de audiência, que àquela altura
estava totalmente vazia exceto por nossa presença. Ela parecia afoita e pela
sua mudança rápida de humor, eu poderia, até, dizer que ela era tão bipolar
quanto minha irmã, Irina, mas ainda assim, eu a segui, não tão rapidamente
quanto, ainda que ela me agitasse. Já não tinha mais pique para levar minha
vida tão agitada quanto uma pessoa que há pouco saíra da adolescência, como era
o caso dela.
Nós paramos, afoitas, quando chegamos à calçada. Eu me
impressionei com o fato de a rua estar tomada por manifestantes, sendo que a
maior parte deles estavam carregando cartazes que estavam dizendo palavras
contrárias a Alec, mas isso não me faria desistir tão facilmente daquele
julgamento, ainda que, provavelmente, James estivesse falando palavras
contrárias a minha defesa para algum bando de jornalistas, também.
— Meu Deus! — exclamou Alice.
— E você ainda acha que essa é uma profissão fácil? —
perguntei-a. — Só defender alguns casos, ganhar dinheiro em cima disso e
digitar algumas defesas? Você estava terrivelmente enganada quando disse isso.
— Estou percebendo isso agora — ela ponderou. —
Desculpe-me por isso.
— Ok — eu não tinha
costume em falar que determinada pessoa estava desculpada;
desculpas, a maior parte das vezes, eram esfarrapadas e eu tinha certeza de que
seu eu desse tal parte a pessoa, ela poderia cometer um erro ainda pior. —
Agora, cadê o carro?
Por mais que o carro dela fosse chamativo, não só pela
marca, mas também pela cor, eu não conseguia vê-lo em meio aquele montante de
carros estacionados naquele local. Talvez ela não estivesse com o Porshe dela,
afinal.
— Tanto faz. Eu não
estou com cabeça para achar o carro de Edward agora.
Provavelmente, ela pegara emprestado o Volvo porque,
ao menos, ele era muito mais discreto que seu Porshe ou o Aston Martin dele.
Mas para mim, meu carro era o ideal, já que ele estava em um canto distante, e
era ainda mais discreto que os carros da família Cullen por ser preto e ter
seus vidros na mesma tonalidade, basicamente, por causa do insulfilm; o seu
tamanho era o único problema, por ser um VW Touareg, ou seja, um SUV.
Meu carro era um dos poucos que não estava muito às
vistas dos policiais, uma vez que as barreiras foram reforçadas devido aos
protestos em torno do julgamento de Alec Volturi – eu só esperava não sair como
vilã dessa história toda, ainda que a bomba fosse jogada nas mãos de Caius e
Anthenodora Volturi, os chefes de boa parte da Máfia Italiana em Nova York. Nós
seguimos para meu automóvel, ao qual destravei somente quando chegamos muito
perto do mesmo, e minha prima sentou-se no banco do passageiro quando eu
sentei-me em meu lugar habitual.
— Você pode começar a falar antes que deixe mais
aflita, pelo amor do santo Deus?
Rapidamente, ela abriu a maleta de trabalho dela,
deixando a vista o notebook que sempre trazia consigo. Entretanto, obviamente,
não era aquilo que ela queria me mostrar e, tampouco, seu objeto de trabalho
foi a primeira coisa que eu vi naquela maleta. Meus olhos, automaticamente,
pararam sobre o papel craft branco com enfeites em renda e as letras EC e IS
estavam impressas ali; eu quase tive um ataque cardíaco quando vi aquilo.
— Eu sei que não sou a melhor pessoa a falar sobre
isso com você, afinal você não é a melhor amiga da Isabella — ela disse, com um
sorriso meia-boca, percebendo o quão triste eu ficara repentinamente. — Edward,
porém, é seu primo e também seu melhor amigo, então ele não gostaria de vê-la
longe nesse momento importante para a vida dele. E espero que você saiba que
ele ama demais aquela garota.
— Alice, você não está me pedindo isso, está? —
perguntei, atônita.
— Infelizmente, sim. Eu estou te chamando para ir ao
jantar de noivado de Edward e Isabella. E eu só fiz isso porque eu tinha
certeza que você mataria o Ed caso ele viesse te falar sobre o assunto, o que
não seria nada legal, eu tenho quase certeza. Mas isso é o de menos… — ela
disse ao colocar o convite em minhas mãos, ainda sem me olhar; quando fez tal
ato, ela se impressionou. — Respira, Tanya. Estou falando sério, Tanya, RESPIRA!
E não faça um escarcéu apenas por causa dessa notícia.
Eu me senti um pouco zonza quando tornei a respirar.
Não estava preparada para ouvir uma notícia daquelas
com todos os problemas que eu estava colecionando para a minha vida. Mas era o
que sempre me diziam: se você não tem sorte no jogo, tem sorte no amor e
vice-versa.
— Eu ainda não estou acreditando nisso, Alice.
— Mas precisa acreditar.
— E se eu não quiser?
— Isso será problema seu, prima. Nós sempre te
avisamos para tirar esse cavalinho da chuva, por um simples detalhe: Edward
jamais aceitaria ter um compromisso com alguém cujo laço sanguíneo é semelhante
ao dele, o que é o seu caso. Carmen e Esme são irmãs ou você se esqueceu disso
também por tão obtusa que ficou após acumular tantos processos para defender?
— Cala a boca, Alice! — eu falei, irritada, e,
novamente, comecei a massagear minhas têmporas, de tão nervosa que eu estava. —
Eu só preciso de um tempo para raciocinar sobre o assunto.
— Eu ficarei calada.
— Então fique de uma vez! — completei, ainda mais
frustrada.
Aquela foi a primeira vez na vida em que vi Alice
ficar inteiramente quieta. Geralmente, quando pedíamos, ela ainda resmungava,
mas nem aquilo ela fez e isso me deixou inteiramente surpresa.
Alguns minutos se passaram até minha linha de
raciocínio voltar ao normal. Eu não acreditava que Edward tinha feito aquilo
consigo mesmo, mesmo sob meus conselhos; eu sabia mais que ninguém que Isabella
Swan não era flor que se cheirasse e que ela era uma das pessoas mais geniosas
que eu conhecia; a diferença, entretanto, corria no fato de ela ser médica, tal
qual Edward e o pai dele, Carlisle. Contudo, eu estava prestes a deixar meu
primo ser feliz – se aquela era a visão que ele tinha de felicidade –, então o
máximo que eu podia fazer é deseja-lo boa sorte.
— Diga-o que irei ao jantar — eu disse seriamente, por
fim.
— Era só o que eu precisava ouvir — Alice disse,
parando de fazer melodrama.
Naquele momento, eu sentia que nenhuma comida cairia
bem no meu estômago e assim optei por rejeitar o lanche feito por Senna, que
estava no banco traseiro de meu carro. Aliás, se eu tivesse que comer alguma
coisa, seria alguma coisa de quinta que estaria acompanhada de algum chope; mas
isso, entretanto, não seria o meu melhor aliado, principalmente quando se
precisa enfrentar um tribunal, novamente, em seguida.
— Estou sem estômago para nada agora. Se estiver com
fome, Senna deixou um lanche separado para mim; está ali atrás.
Ela virou ligeiramente a cabeça para trás, viu a bolsa
térmica de cor roxa parada sobre o banco traseiro e estendeu o braço para puxar
aquele objeto para si. Logicamente, o lanche a agradou da mesma forma que teria
me agradado se não estivesse sem estômago para digerir qualquer coisa que
fosse.
Assim, eu preferi ficar pensando em meu cliente por
alguns minutos. Precisava pensar em como, sem meu álibi, deixa-lo passar
totalmente por inocente. Para o Estado, faltava apenas uma testemunha e, de
qualquer forma, eu só tinha meu álibi e o testemunho de meu cliente antes do
resultado, partindo dos jurados.
(∞)
Dentro de uma hora depois, Alice e eu estávamos em
nossos postos dentro da sala de julgamentos. Alec fora trazido novamente para o
meu lado e parecia bem menos nervoso que anteriormente se demonstrava,
provavelmente por alguma coisa que seu pai tinha lhe falado.
Isso era o de menos até mesmo porque eu sabia que
dentre as testemunhas do caso estava uma importantíssima, que tão logo todos
estavam dentro da sala, foi anunciada.
Era um homem dessa vez, tão louro quanto Alec. O tio
do rapaz, Caius, era a testemunha ocular de James? Eu permaneci muda; aquilo
sim era capaz de mudar totalmente o rumo da investigação.
Rapidamente, aquele homem tomou o lugar que antes
pertenceu a Heidi e Renata e fez o juramento, tal qual as outras duas
testemunhas. Assim, tal qual de praxe, James começou o interrogatório, partindo
dos princípios de que ele precisava me desfavorecer para, enfim, conseguir algo
a seu favor. E ele soube ir direto ao ponto:
— O senhor está a par dos demais julgamentos?
— Não estou.
O promotor rapidamente olhou para a juíza, que
consentiu com a cabeça para que ele seguisse:
— Qual é a sua influência sobre Alec Volturi?
— Nenhuma. Ele é um
jovem que pode até se fazer de santo, de influenciável, mas que disso não tem
nada. Ele sempre foi um gênio ruim ou como vocês dizem, a ovelha negra da família.
— Nada?
— Nada. Nunca exerci nenhum tipo de influência sobre o
garoto; ele, desde pequeno, fez o porte genioso com minha mulher e eu. A irmã
dele, Jane, era um pouco mais flexível e sempre se comportou como uma autêntica
dama, mas Alec? Ele sempre foi genioso.
— Alec sempre foi genioso, mas ainda assim, houve uma
época em que a irmã e ele foram viver com a sua esposa e consigo. Como era a
relação entre vocês?
— De mal a pior.
— O senhor pode ser mais… explicito?
— Logicamente sim,
promotor — Caius deu um sorriso branco, quase irritante. — Ele nos dava muitos
problemas, principalmente em relação a escola, e não gostava que ninguém se
intrometesse em seus assuntos pessoais —
completou ele, fazendo um sinal de aspas, representando que aquele assunto,
para si, não era levado a sério. — Foi ai que descobrimos, minha esposa e eu,
que ele estava envolvido com o tráfico de entorpecentes, além de utilizá-los,
vez por outra.
— ISSO É UMA CALÚNIA! — meu cliente gritou,
erguendo-se de sua cadeira.
— Senhor Volturi — disse a juíza, fuzilando-o e
fazendo o mesmo comigo em seguida. — Queira se sentar ou esse julgamento será
obrigado a continuar sem a sua presença.
Inferno… Em que lugar eu metia a minha cara?
Era lógico que, parcialmente, eu não estava presente
naquele lugar, por tudo o que estivera acontecendo uma hora antes – ali estava
somente o meu corpo sem a parte pensante do mesmo – e, entretanto, ainda que
ouvisse e não raciocinasse muito sobre, o berro dado por Alec e a réplica dada
pela juíza foram suficientes para me deixar bem desperta.
E tão lógico quanto tudo o que eu pensara naquele
momento, a juíza tão logo disse, voltando-se para mim, quando meu cliente se
sentou:
— Além disso, cabe a senhorita Denali cuidar das
atitudes impensáveis de seu cliente — a mulher disse, sustentando meu olhar por
mais alguns segundos e, depois, virou para James e Caius. — Prossiga, promotor.
Eu estava bem atenta, daquela vez, para perceber que
os olhos de ambos os louros faiscaram, fazendo-os parecer ligeiramente
parceiros de longa data. Talvez eu estivesse vendo além daquilo que meus olhos,
de fato, podiam ver e estivesse imaginando coisas que atravessavam uma
realidade jurídica.
A notícia do jantar de noivado de Edward e Isabella
não havia caído muito bem para aquele meu momento.
— Você já o ouviu falar sobre isso ou usar tais
drogas? — perguntou o promotor.
— Obviamente o ouvi falar sobre e usar tais
entorpecentes, em especial LSD e cocaína. E isso começou quando ele ainda
estava no início da adolescência. Mas como dizem hoje em dia, os jovens
precisam fazer parte da turma em que estão e essa foi a forma que ele arranjou
para conseguir amigos. Logicamente, meu sobrinho não é a melhor flor a se
cheirar, devido a influência existente em nossa família.
E dentre essas
influências, eu pensei, estava inclusive aquele que estava depondo no momento,
que, muito provavelmente, foi comprado por alguns anos a menos em sua prisão
por se tornar aliado da Justiça. E que bela Justiça nós tínhamos em nosso país,
aliás; eu não duvidava nenhum pouco que Caius estivesse se fazendo de inocente
apenas para limpar sua barra, até mesmo porque julgar a culpa no
sobrinho já preso era muitíssimo fácil.
Aquilo era muitíssimo irônico para mim.
— Quais são essas influências? — foi mais fundo o
promotor.
— O pai do garoto e, possivelmente, até mesmo eu — ele
deu outro sorriso branco, mas dessa vez um pouco menor, mais falso. — Não tenho
motivos para esconder a verdade da Justiça, afinal. Os Volturi, em si, jamais
foram flores à se cheirar; nós trabalhamos diretamente com a Máfia Italiana em
Nova York; nós somos a Máfia — ele reformulou, por fim —, portanto já era de se
esperar que meu sobrinho ou minha sobrinha se envolvessem com essas coisas.
James fez uma careta
impressionada com a revelação que fora feita, mas eu o conhecia muito bem –
tanto quanto cada linha da palma da minha mão – e sabia o quão falso era seu
meio de agir. Eu precisava de um modo de contornar a situação; era
isso ou os jurados, cada vez mais confusos – ainda mais com o julgamento de
Caius Volturi –, se voltariam para o lado de James. Eu tinha que pensar em alguma
coisa e rápido; quanto mais rápido fosse, melhor para o meu cliente.
— E o que te faz pensar que o futuro do garoto
precisava estar ligado à Máfia? — James perguntou repentinamente e eu não
entendi muito bem o que significava aquilo; uma repreenda ou uma mudança no
seguimento daquele julgamento, como se, repentinamente, ele resolvesse me
favorecer.
— Ele não tinha nenhum outro plano para o futuro, por
mais que Jane tentasse lhe influenciar — a testemunha tentou explicar. — Dessa
forma, a única coisa que buscou para si foi herdar uma parte – senão por
completo – os negócios que meu irmão e eu cuidávamos.
— Não tenho mais nada a argumentar, juíza — disse
James.
Porque (infernos) ele deixaria um julgamento
inconcluso? James tinha toda a chance de contornar aquele julgamento e deixar
que eu me ferrasse de todos os sentidos possíveis – podendo sair dali morta ou,
até mesmo, perdendo o meu futuro cargo como juíza.
Até mesmo aquela juíza bendita notou a falta de nexo
naquela última pergunta, hesitando antes de dar a vez à mim:
— A testemunha é sua, senhorita Denali.
— Meritíssima — articulei-me e assenti antes levantar
com cuidado e tão logo iniciei. — Senhor Volturi, acaba de dizer que seu
sobrinho esteve buscando a hierarquia da máfia para si e, para isso,
certamente, toma como base algum comportamento estranho de meu cliente que
esteve fora do comum, ao menos aos seus padrões.
— Sim.
— E quais seriam esses?
— Uma pessoa que nunca se interessou pelas finanças de
sua família, repentinamente, adentrar nos negócios da mesma não lhe soaria
estranho? — ele me respondeu com uma pergunta, mas quando me tornei
irredutível, ele tentou explicar. — O garoto não tinha objetivo nenhum com isso
e, portanto, não creio que isso seria uma coisa boa para os negócios.
— Ou não.
— Desculpe-me?
— Não estamos aqui para
discutir lucros. O que importa, no momento, é o quão estranho é o fato de Alec
Volturi, seu sobrinho, que tem direito aos lucros dos negócios da família,
resolver fazê-lo, quando seu irmão mais velho, senhor Caius, está com um grave
problema de saúde como vê — eu disse, voltando à mesa em que eu estivera e
apontei para que trouxessem as provas até mim — aqui, nesses exames que nos
trazem.
Dessa forma, as provas foram dispostas junto à juíza,
que avaliou rapidamente o conteúdo dentro daquele envelope.
— De fato, Aro Volturi não parece tão saudável quanto
aparentava cinco anos atrás — comentou a juíza. — Esses exames indicam que o
mesmo precisa de um transplante de coração e fígado caso queira continuar vivo
para o próximo um ano.
A careta que Alec fez
foi aterradora. Ele não sabia nada sobre a doença do pai, assim como sua irmã
gêmea, que começou a olhar as mãos do patriarca que estava bem ao seu lado.
Entretanto, Caius olhava-me com certa rejeição quando observei-o novamente; não
havia sequer lagrimas falsas ali – definitivamente, ele era duro como um
diamante, que só pode ser riscado por si mesmo. Eu até imaginei que ele me
lançaria uma frase como tudo bem, mas eu não tenho nada a ver com isso.
— Com isso, explica-se o motivo de meu sobrinho estar
imerso nos negócios… — Caius disse, quase dando uma risada. — Mas isso não
explica o fato de meu sobrinho estar com drogas em sua mala enquanto embarcava
para a Itália.
— Talvez isso não explique, senhor Volturi, mas meu
álibi será capaz de fazê-lo por mim — eu respondi, enquanto senti-o mudar a
expressão em seu rosto muito severamente – de ironia para certo nervosismo
muito rapidamente. — Eu não tenho mais nada a falar com esse senhor,
Meritíssima.
— Está pronta para a sua testemunha, senhorita Denali?
— perguntou-me ela.
Senti James, ainda que a distância, desaprovar aquela
situação.
— Sim, Meritíssima.
— Podem levá-lo; em seguida, tragam o álibi da
senhorita Denali.
O silêncio imperou sobre aquela sala quando todos
notaram a presença de uma mulher com aproximadamente a mesma idade de Aro. Ela
passava, há não muito, dos cinquenta anos, mas tinha o vigor estava mais seu
amigo que daquele senhor cujo filho era julgado naquele momento. Os óculos que
usava, rapidamente, ajustou sobre o nariz, como se o mesmo estivesse lhe
atrapalhando naquele momento.
Como a testemunha fazia parte da defesa, era direito
meu começar com as perguntas.
— Você está ciente que causou certa estranheza as
pessoas aqui presentes.
— Sim. Exceto para uma.
— Qual é o seu nome?
— Chelsea, uma reles governanta da família Volturi,
mas sempre fui além disso.
— Pode ser um pouco mais clara?
— Eu, assim como Heidi Seear, trabalhei para a família
desde jovem e logo, de uma faxineira, me vi no papel de governanta sem tentar
certos benefícios para chegar ao meu cargo. Ou seja, eu nunca me ofereci para
sequer um membro da família Volturi.
— E, exatamente, porque você está aqui?
— Para declarar que o testemunho de Caius é
completamente falso.
— E de que forma?
— Provando que aquelas drogas foram parar na mala de
Alec por ordens do tio do rapaz.
Naquele momento, uma televisão e um aparelho de
televisão foram levados à sala. Faziam parte da minha prova, unida por
legitimidade. Tão logo, o escritório da ampla casa dos Volturi apareceu na
imagem, através de câmeras de vigilância. E a filmagem demonstrou o seguinte
ato:
“Eu não farei isso com o garoto, Caius.”
“Te pago para fazer; então você fará!”
“Quando entrei nessa história, eu não imaginava que
você iria tão fundo assim…”
“Algumas drogas na bolsa de um rapaz que todos sabem
que é drogado não faz tão mal assim.”
“Isso é o que você diz. Você está com medo de perder o
que julga ser seu por direito, quando sabe muito bem que não é bem dessa
forma.”
“Quem você acha que é para falar comigo dessa forma,
Chelsea?”, o homem parecia bem exaltado àquela hora. “Você é a governanta dessa
casa e se quiser continuar como tal, faça o que lhe falo. É tão simples. Agora
vá!”
Quando a atenção foi voltada novamente para Chelsea,
todos a olhavam um pouco incrédulos por se obrigar a olhar para alguém que
fazia de tudo para manter seu trabalho em pé. E ela começou a falar.
— E eu fiz o que ele me ordenou e me sinto culpada. Naquele momento,
eu estive pensando em minha família e como eles precisavam do dinheiro que eu
dispunha-os através daquele trabalho. Então, precisava fazer aquilo ou tinha
risco de sair daquele lugar sem ter a chance de arranjar outro lugar para
trabalhar por ficar com o nome sujo.
— Não tenho mais nada a declarar sobre o assunto — por
fim, falei. — Promotor.
Ele enrubesceu de tanta raiva que sentia de mim, pelo
visto. Seu julgamento caíra por terra e eu ainda encontrara a verdadeira
culpada, junto à Caius.
— Também não tenho nada a declarar sobre o caso,
Meritíssima.
Eu tinha ouvido bem? James estava, de fato,
entregando, por vencido, o caso para mim? Era tudo o que eu precisava ouvir.
— Sendo dessa forma — disse a juíza —, os jurados
terão um recesso de meia-hora para decidir se Alec Volturi é culpado ou
inocente sobre o caso.
Dessa forma, Alec virou-se para mim com um sorriso no
rosto. Nós já sabíamos: meu cliente e eu tínhamos vencido aquela causa.
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