Olá, druz'ya! Resolvi dividir aqui também a L&H porque sei que estava muito grande. A leitura se torna um pouco cansativa quando daquela forma. :( Então, em seguida eu já coloco também as partes do segundo capítulo, que já está toda feita e publicada no Nyah! <3 See you soon!
Parte II
Eu sempre me perguntei o porquê da existência
daquela porcaria de animais chamados pássaros.
Você sequer pode acordar um pouco mais tarde por conta daquele bando de animais
piando nos seus ouvidos desde manhã cedo até o meio-dia. Isso jamais foi um
conto de fadas, ou um filme cuja história é baseada em um, então não tinha por
que aqueles benditos animais filhos da mãe piavam nos meus ouvidos logo cedo?
Agora
pensem um pouco sobre o que vocês acham sobre estresse. Eu não estava, àquela
altura, nem perto de ter um colapso nervoso, concordam? Só porque você vira até
tarde da noite fazendo o seu trabalho, sua tia lhe interrompe uma centena de
vezes para falar sobre coisas torpes e, no final, você acaba completando a sua
noite com pensamentos sobre sua ex-namorada, a quem você ainda ama, isso não
significa porra nenhuma? Sim, eu estava pronto para um colapso nervoso! E eu o
teria a qualquer momento… provavelmente com o primeiro que eu visse na minha
frente.
Sim,
àquele dia eu havia dormido apenas três horas e encarei isso como uma coisa não
muito boa quando você acorda com o pipiar dos pássaros nos seus ouvidos às seis
e cinquenta da manhã. Certamente, eu teria dormido mais tempo se não fossem os
compromissos que me amarram até tarde da noite; entretanto, para aqueles que
pensam que a vida de um monarca é repleta de rosas digo-lhes que estão muito
enganados. Coloque-se no lugar que ocupo e, caramba, você há de valorizar o
trabalho que faço, simplesmente porque isso vai muito além de ter o jogo de
cintura de um governante comum – e certamente você não quererá mudar do seu
trabalho entediante para o meu: ser
herdeiro de um trono vai além de oferecer chás-das-quatro para seus amigos ou
fazer eventos de caridade. Vá por mim; você não gostará.
Logicamente,
a minha situação atual tem seus altos e baixos – mais baixos que altos, diga-se
por sinal – e, talvez o que eu digo agora ofenda a outros monarcas e herdeiros,
mas eles sabem tanto quanto eu lhes digo que isso é verdade: quando se é um
principezinho filho-da-mãe, como meu irmão e eu, você tem o mundo aos seus pés,
como se isso fosse verdadeiras maravilhas-maravilhosas (sejamos redundantes),
ainda que você não tenha a atenção de seus pais, que fazem outras coisas que
não planejar o chá-das-quatro. Isso é uma porcaria, mas é a realidade, só que
você se sente bem porque é recompensado
(utilizemos essa palavra maldita) pela fortuna que cai mensalmente em sua
conta, sabendo que ainda que se gastem todos os cifrões ali presentes, haverá
muito mais do lugar que aquele montante saiu. E outra: já que seus pais não
estão ali com você, de olho em ti, outros olhos estarão ali lhe seguindo
ferrenhamente; os paparazzi estão ali não apenas para fazer seus familiares
conhecerem mais sobre ti, mas também para tornar a sua vida pública. Para essas
horas, ser polido não adianta nada. É só sentar e esperar para ver o que
aparecerá nas capas dos jornais ou pegar um martelo e correr atrás da câmera
que registrou os seus momentos mais íntimos – o que não é nada bom para a
imagem que você quer apresentar, dependendo da situação.
Ao contrário do meu irmão, entretanto, eu sempre
busquei me manter em um campo mais neutro; não arranjava confusões e não saia
com martelos em minha mão para quebrar câmeras como ele fazia em nossa
adolescência. Buscava me enturmar e ia para as festas, mas não passava muito
disso; eu fiz minha lição de casa sobre etiqueta, sim. Então, para ser a imagem boa dos Svensson Baumgartner, eu
resolvi estudar encarando uma personagem que apenas minha família e amigos
próximos (a isso encaixa somente Caius)
conheciam: Gustave. Escondia-me por detestar a mídia e fui para Boston, onde
estava protegido dos olhares das câmeras, mas não longe dos meus sentimentos,
que hoje encaro como meus piores inimigos – mais até que os paparazzi.
Foi assim que conheci Isabella e os Swan.
Maldito foi o dia que vi aquela mulher pela
primeira vez; mas, primeiramente, maldito foi o dia que conheci Rosalie Hale.
Hoje encaro que esse foi o maior castigo que Deus (se existe um) pôde me dar,
porque se eu não tivesse conhecido Rosalie, muito provavelmente eu não teria
conhecido Isabella e hoje não ficaria martirizando-me, fazendo alguns dos meus
empregados revirarem dia-e-noite nas bibliotecas fétidas de Liechtenstein atrás
das leis previstas a favor de um casamento entre um nobre e uma plebeia.
Inferno…
Ou não…
Serei menos Almeida Garrett e pararei de comparar
minha vida a um dos poemas dele. Caso você não saiba sobre qual obra falo,
digo-lhe abertamente: Este inferno de
amar.
Não descreverei muito sobre mim. Apenas digo-lhes
que conheço um pouco sobre muitas coisas, inclusive uma gama de idiomas.
Compreendo e falo com facilidade o Inglês, Francês, Italiano, Espanhol, Língua
Portuguesa e, obviamente, o meu idioma materno, o Alemão, principalmente por
conta dos meus preceptores e porque meus pais desejavam isso de nós; e com
certa dificuldade, ainda que compreenda bem, o Russo e o Sueco, pois são as
minhas descendências por parte de mãe, o que me tornou obrigado a saber nem que
fosse o mínimo. E acredite: fiz isso por desejo meu também, por querer conhecer
outras culturas e não por querer ser um Papa.
Deixando de enrolação, logicamente, eu tinha
coisas a fazer no meu dia! Eu não era uma pessoa preguiçosa, ainda que fosse
acordado precocemente, e sabia muito bem as atividades que eram da minha
competência.
Levantei de minha cama naquele momento. Nunca
tive o costume de espreguiçar-me porque falavam que esta era uma atitude
incorreta, independentemente do local, então rejeitava tal ação e ia sempre
para o banheiro, cuidar da minha higiene pessoal. Era o meu costume matutino,
pois achava que jamais estava acordado o suficiente se não fizesse isso e creio
que se não seguisse a regra, não continuaria meu dia com bom-humor (mas eu
notara ainda que cultuando com meu hábito, eu estava com um mau humor que
estava afastando todas as boas amizades de mim).
Aproveitei que estava cultuando tal rotina e
aproveitei para fazer, também, a barba, como fazia todos os dias pela manhã; só
houvera uma época que eu a havia deixado crescer um pouco, quando estudava em
Boston, apenas sob o intuito de esconder-me, afinal eu não era o padrão
estadunidense e facilmente chamaria atenção de quem eu não queria chamar.
Logo, escolhi roupas confortáveis para viajar. Não
julgue que por ser um monarca eu me vista muito diferente de um plebeu no
dia-a-dia; o que importa, o que dita a nossa qualidade – se você me entende – é a marca de roupa utilizada por
nós – ou que eles usam, porque eu não fico perdendo tempo com essas
nomenclaturas. Vesti-me com uma camisa social branca, uma calça social, cinto,
um par de meias e sapatos igualmente pretos – ou seja, um sinal bem clássico
dos armários masculinos.
Minha mala já estava pronta também e eu sabia que
nela havia tudo o que eu necessitava naquela viagem simplesmente porque Helga,
minha governanta, era a responsável por aprontá-la. Ela vivera em Londres
durante um tempo, trabalhando para os Nelson, que a indicaram para trabalhar
comigo em Liechtenstein após o falecimento dos meus pais, que há pouco haviam
aposentado a governanta deles, uma senhora francesa já idosa que tornara a sua
cidade natal, Nice, para ficar junto aos filhos. Não que Helga fosse muito
nova: já beirava os cinquenta, mas não se casara e tampouco tivera filhos,
então ela não considerava a aposentadoria alguma coisa muito vantajosa para si.
E ela era bem organizada, sabendo o horário, inclusive, que eu costumava
acordar para preparar meu café da manhã antes de eu começar meus afazeres
diários.
Diariamente, quando descia as escadarias, por
birra da minha tia e organização de Helga, deparava-me com os móveis antigos
daquele castelo sendo lustrados pelos empregados; estes, por pouco me
conhecerem, olhavam-me horrorizados, como se eu fosse alguma espécie de monstro
por conta de alguma história, provavelmente, que minha tia contara, na qual
falava que se ela era ruim, eu era muito pior. Eu sentia pena daqueles
mal-afortunados, que deveriam sofrer com os terrorismos constantes de minha
tia, já que eu não conseguia imaginar Helga tratando uma pessoa mal – a não ser
que ela fosse duas-caras, o que era quase impossível.
Quando cheguei à sala-de-refeições, o
café-da-manhã estava sendo posto e a minha companhia deixou-me um pouco –
reformulemos: muito – frustrado. E
antes fosse minha tia; teria preferido muito mais. A pessoa, com cara de poucos
amigos, solicitava à empregada que lhe servisse com frutas e um copo de suco de
maçã – provavelmente, alguma moda concentrada de minha tia, que costuma dizer
que isso não deixa de ser natural. E se já não bastasse o incômodo, ele – sim,
ele – me olha com cara de poucos amigos e diz-me, enquanto puxo a cadeira do
outro lado da mesa, de mau humor, em uma tentativa de tirar-me do sério:
— Edward, mon
frère! Dites bonjour à votre cher
frère.
— No.
— Pourquoi
pas?
_____________________________________________________________________
TRADUÇÃO (livre):
“Edward, meu irmão! Diga bom dia ao seu querido
irmão.”
“Não”
“Por que não?”
_____________________________________________________________________
— Pare de ser imprestável e tentar passar-se por
coitado, Demetri!
— Eu só queria provocar-te.
Logicamente e facilmente, Demetri conseguia tal
feito. Ele desaparecia de casa por mais de um mês sem dar um sinal de vida e
achava que tudo seria as mil maravilhas. Não da minha parte; não da parte da
minha tia: nós fazíamos questão de tornar a vida dele um inferno apenas para
ver se ele corria daquele lugar ou não. E quando era dessa forma, nós sabíamos
muito bem o motivo do retorno dele: o fato de o mesmo ter perdido muito
dinheiro no jogo e não ter acesso à herança de nossos pais enquanto ele não
arranjasse um emprego decente voltado à área dele. SIM! Demetri tem profissão,
aquele imprestável que só nasceu para ser um estorvo na minha vida; terrorista
de meia tigela!
Sabe aquela história de que irmãos gêmeos preveem
quando um está passando dificuldade ou está magoado! Por sermos irmãos gêmeos –
mas não semelhantes, por favor, ou eu teria pesadelos ainda mais constantes –,
eu conseguia ver quando ele estava mentindo ou passando por dificuldade. E
daquela vez, ainda que me torrasse a paciência, eu sabia o que ele queria e era
uma coisa honesta, ao menos uma vez na vida.
— Fale o que você quer, terrorista — disse-lhe
eu, apoiando o cotovelo, de um modo preocupado, sem preocupar-me com a etiqueta
enquanto a empregada, que estava ali sempre aquele horário para me servir,
colocava em minha xícara um pouco de café quente, sabendo que aquilo me
deixaria bem atento por algumas horas, ao menos (ou seja, até o momento que eu
fosse direcionado ao jatinho de minha família, que, com alguma sorte, não
estaria com o banheiro vomitado).
— Você sabe que eu preciso de dinheiro.
— Logicamente.
— Mas eu quero fazer isso de uma maneira honesta.
Quando um homem procura dinheiro
instantaneamente, só tem três razões: 1) ele está envolvido com agiotas (o que
não era a cara do meu irmão ainda que ele mexesse constantemente com jogos); 2)
ele está se envolvendo com uma mulher, mas é fraco demais para conversar sobre
o assunto, com medo de ser irritado sobre o assunto; ou 3) tem alguma herança
envolvida na história, como era o caso do meu irmão. Como eu conhecia muito bem
Demetri, como a palma da minha mão, eu não precisava falar que o assunto em
questão era mulher e herança, ou seja, razões número 2 e 3 estavam em jogo
naquele momento.
— Então você quer um emprego — eu disse,
revirando os olhos.
— É… Não que isso seja a coisa mais natural
partindo de mim, mas…
— Mas tem mulher na história e você não quer
falar sobre o assunto. Contudo, eu não posso te oferecer qualquer outro lugar
para trabalhar senão o que eu tenho no momento e não que esse seja o melhor ambiente
do mundo para se trabalhar, mas abrange a sua formação.
— Eu não quero trabalhar com Arte. Formei-me
nisso para agradar nossa mãe e você sabe muito bem disso, Edward, porque ficar
no meio daquele montante de pinturas no Louvre não foi a melhor das minhas
experiências, ainda mais por ter que ficar no anonimato. Era detestável ter que
conviver com aquelas…
Demetri tinha um sério problema de relacionamento
com pessoas que não era da nossa prole. Ou seja, subtende-se automaticamente
que para se conversar com ele, era necessário que a pessoa tivesse algum titulo
de nobreza. Ele adotava aquilo que as pessoas chamam de amizade por afinidade, se bem essa afinidade não seja a mesma que
aquela provavelmente imaginada por você, meu caro; a afinidade que falamos no
momento se chama dinheiro, money, dinero, argent, geld…
nomeie do jeito que bem preferir – é tudo a mesma coisa, não importando o
idioma que falemos.
— É a única coisa que tenho para passar-lhe por
enquanto — eu disse, sorvendo um pouco do café sem gosto, que parecia um
líquido ralo, nada parecido com o que eu costumava tomar quando estava a
negócios no Brasil.
— Um lugar no Parlamento também seria ótimo para
mim; agradeceria de muito bom gosto.
— Apenas se você quiser um lugar como faxineiro;
eu não posso indicar ninguém para trabalhar naquele lugar no cargo que você
quer ainda que eu seja o Monarca desse país.
Assim que ele ouviu-me completar, pronto para
revirar os olhos após tamanha era idiotice falada pelo meu próprio irmão, ele
reformulou:
— Embora eu saiba que as coisas não funcionem
desse jeito.
— O cargo é bom; você sabe que eu poderia jogar
xadrez com o dono do local e fazer você ficar com o emprego de um faxineiro, se
eu quisesse, já que nesse sentido eu consigo facilmente o que quero.
Ele fez uma careta. Foi a primeira vez que eu não
soube identificar se era por nojo do cargo que eu falei-o por último ou se não
queria se sentir inferior, tal qual certos plebeus. Mas quem manda torrar a porra do dinheiro que ele tinha guardado para
si em momentos de necessidade?
Ok, eu não generalizarei: dependendo da mulher,
poderia o dinheiro ser uma necessidade ou não para o meu irmão. E ele tinha
certa sina para encontrar vagabundas até mesmo em meio às nobres. O apelido
dele, até, virou dedo podre dentro e
fora da mídia. Entretanto, eu só achava engraçado um fato: eu jamais vira uma
foto da sujeita e, tampouco, fomos apresentados um ao outro. Talvez meu irmão
quisesse poupar-me do desgosto, já que ele não sabia escolher uma boa
companheira para si.
— Você vem comigo para Londres hoje — disse-lhe.
— Não é porque você é meu irmão que tem que se
sentir no dever de mandar em mim — ele retrucou.
Eu, que já não estava no melhor dos humores,
bravejei:
— Não estarei para sempre do seu lado para
arrumar as burradas da sua vida! Se não fossem seus jogos de azar, você poderia
estar em Madagascar com a sua vadia agora. Eu não me importaria; mas,
infelizmente, eu sou o seu porto seguro, porque tenho dinheiro, enquanto você
sequer lutou uma vez na vida para conseguir o que queria por ser um desgraçado mimado.
Definitivamente, discussões no inicio da manhã
arruinavam meu dia. E eu não me importei em levantar irritado da cadeira sem
deixar, antes, o guardanapo sobre as frutas queridas de meu irmão, pois assim
ele também ficaria irritado. Eu simplesmente sabia; não precisava voltar meu
olhar para aquele sujeito desgraçado para saber que ele estava mais velho que
um tomate maduro.
Logicamente, Helga sempre estava de ouvidos
atentos a tudo que acontecia naquele lugar e certamente previa que eu brigaria
com ela pelo simples fato de a mesma ter permitido a entrada daquele sujeito no
castelo. Não faria nada disso com a pobre coitada – ela não merecia.
— Senhor — a mulher começou a dizer, subindo as
escadarias, seguindo-me até o escritório —, eu tentei evitar…
— Isso não me importa mais, Helga.
— Tudo bem, senhor. Eu quero saber se posso pedir
para trazerem as malas para o andar inferior.
— Diga para colocarem no porta-malas do Sedan 9-5
e já diga para o motorista estar a postos. Já estou descendo novamente.
— O Saab preto ou prateado?
Era verdade: ela não entendia nada de carros. Os Saab eram os carros
de minha preferência, ainda que fossem caros, porque eles eram ainda mais
discretos que a BMW e a Mercedes, que só usava em eventos oficiais. Como não
era exatamente o caso, os Saab eram a minha melhor opção; e eu optava pelo carro
de cor prata nesses casos, o meu 9-5, já que o preto era um SportCombi e seu
modelo era 9-3, chamando muita atenção nas ruas.
— O carro prata.
— Tudo bem, senhor.
Essa foi à frase que nos separou. Assim que
entrei no escritório, ela se virou e seguiu em direção ao meu quarto para pegar
as malas que a mesma havia preparado para a minha viagem e eu tinha certeza que
dali ela chamaria, pelo interfone, para qualquer outro cômodo atrás de
empregados para que a ajudassem a descer com as malas pesadas. Ela sabia bem
que quando eu entrava naquele escritório, não deveria ser interrompido por nada
e ninguém e que sendo dessa forma, não optava por trancar a porta.
Não que fosse um momento intimo, mas aquele era o
meu local de trabalho quando não estava cuidando dos negócios do país, quando
eu estava cuidando de coisas relacionadas às riquezas de família, as quais eu
tinha dever de administrar. E acredite: isso era muito chato, principalmente
quando a sua formação não tem nada a ver com Administração ou Contabilidade e
sim, Linguística e Literatura. Tive que aprender a entender sobre o assunto;
ter aquilo que os que têm sangue latino chamam de jogo de cintura para poder administrar aquelas coisas. Mas ainda
assim, eu não estava naquele escritório para tratar de negócios.Minha
consciência pesou. Evidentemente, todos sabiam, naquele castelo, que eu não me
fechava naquele escritório apenas para tratar de negócios. Todas as lembranças
que me martirizavam estavam ali também; não apenas documentos.
As chaves em meu bolso da calça pareciam ter um
maior peso quando eu entrava naquele ambiente. E eu queria que não fosse desse
jeito, mas eu precisava me despedir dela, de qualquer forma.
Abri a gaveta direita de minha escrivaninha e a
primeira imagem que vi foi a nossa, na viagem que fizemos para Toronto na época
do inverno. Aquele foi o meu melhor e o meu pior inverno dentre todos; dois
sentimentos mesclados que eram capazes de tornar-me feliz e triste ao mesmo
tempo. Emmett, o irmão mais novo de Isabella, fora o fotógrafo. Os irmãos Swan
reuniram-se com seus determinados casais naquela viagem: Jasper, o irmão mais
velho de Isabella, estava com sua recém-noiva; Emmett estava com sua namorada
recente, uma médica alergista com quem fizera Residência; e Isabella estava
comigo.
E eu lembro-me exatamente o martírio que me foi
deixa-la dormindo sozinha naquele quarto em Toronto sob o medo de vê-la sofrer
caso fizesse uma despedida. Fui um verdadeiro desgraçado quanto isso; um
covarde. Mas era necessário.
Hoje eu vejo que se não fosse à pressão que sofri
após a morte de meus pais, abriria facilmente mão do trono apenas para ficar
com ela. Entretanto, agora sou obrigado a me contentar com os pesadelos
passados. É capaz de ela encarar que eu apenas quisesse uma aventura com ela,
tal qual fizera todos os outros. Espero eu que ela saiba que isso não é a
verdade; eu a amo de uma forma que nunca fui capaz de amar ninguém. Ou talvez
ela encare isso como uma falta de lealdade minha com ela e não deseje nunca
mais em sua vida olhar em minha cara. Mas eu venho lutado todos os dias de
minha vida – Deus sabe o quanto – para que possamos ficar juntos, buscando em
cada canto de Liechtenstein por uma lei permitindo nosso casamento, se assim
ainda for do desejo dela – ainda que eu ache que não.
Nessas horas eu me sinto tão martirizado, tão
envergonhado, que eu prefiro não continuar a olhar fotos nossas apenas para não
ter que chorar devido o ódio que sinto de mim mesmo.
Coloquei a foto na gaveta a qual a mesma
pertencia, trancando-a em seguida; recolhi os documentos que utilizaria nas
reuniões na Inglaterra e coloquei o notebook em sua proteção devida antes de
sair daquele cômodo. Foi basicamente o tempo que levei até Helga colocar as
coisas junto com os empregados no Saab. O motorista, inclusive, me esperava
dentro do carro e Helga, à entrada, olhava-me com um pouco de piedade; de lá,
ela me disse, quando já estava dentro do carro:
— Boa viagem, senhor.
Acenei-a em retorno, simplesmente porque esperava
ter uma boa viagem de carro até Altenrhein, na Suíça, já que não tínhamos
infraestrutura suficiente em Liechtenstein para termos um aeroporto. É
engraçado falar sobre isso, já que nós somos um país rico localizado em apenas
160 km² entre a Suíça e a Áustria e igual a esses dois, que também são
riquíssimos, nós possuímos um alto índice de corrupção no que diz respeito à
lavagem de dinheiro. E eu venho lutado dia-e-noite contra isso desde o início
de meu governo; entretanto, na política liechtensteinense não é feita apenas de
mim.
Eu não vou mentir em falar que cochilei nos
quarenta minutos de viagem. Se fosse eu a pessoa a dirigir aquele Saab, ele já
estaria no meio de um acidente devido o meu sono. Ao menos, naquele momento, eu
consegui colocar a minha mente em ordem, mas isso era o mesmo que ter
lembranças dela invadindo minha memória. Entretanto, quanto mais eu tentava
afastar as memórias de Isabella da minha cabeça, mais elas insistiam em ficar
junto de mim.
(∞) Flashback On (∞)
Os olhos dela costumavam analisar tudo conforme seu ponto crítico de
visão. Quando ela via uma coisa fora daquilo que estava habituada, seus olhos
fixavam-se sob o que quer que seja e ficava analisando. Ela era muito
detalhista nesses quesitos, mas como eu já me acostumara a isso, não mais
ligava a tais coisas. Eu sabia que ainda sendo o que eu era (e ela sequer
desconfiava disso até então), aquela situação poderia ser um pouco incomoda;
mas partindo dela e eu, já acostumado, pouco ligava.
Tive que me adaptar ao padrão de vida dela. Basicamente, tudo o que
cultuei para a minha vida até então fora juntado e jogado no lixo. Então encare
o fato de se eu só ande ei de carros durante a minha vida inteira; nunca soube
o que era um transporte público, seja ele um ônibus ou um trem, até então, ao
menos. Entretanto, com ela, eu aprendi o que era ser desajeitado a cada parada
que o ônibus dava quando o mesmo estava cheio e era necessário ficar em pé ou
sentar-me em um assento de plástico do trem. Mas isso não vinha ao caso.
A cabeça dela estava encostada em meu ombro direito enquanto estávamos
sentados em um assento duplo do metrô nova-iorquino. A noite já começava a cair
sobre a cidade e nós estávamos tirando alguns dias de folga, uma vez que ela
recebera uma ótima proposta de trocar a escola para lecionar em uma
Universidade em Boston e estava avaliando por uma semana. Havíamos saído do
cinema, no qual havíamos assistido a um filme – nem ela nem eu lembrávamos o
enredo do filme, mesmo porque acabamos dormindo no meio do mesmo.
Então ela riu.
Abaixei meu olhar rapidamente para ela, quando percebi que ela enlaçou
minha mão. Aquilo era símbolo de que ela precisava me contar alguma coisa, já
que ela não costumava ser uma pessoa dada a carinhos constantes. Quem não a
conhecesse, diria que ela era fria, mas não: a vida, a história dela, fizera-a
assim.
— Tem alguma coisa a me dizer? — perguntei-a. O sorriso gracioso, mas um
pouco tímido, dela me deixava curioso, todas as raras vezes que ela existia. —
Se você puder me dizer, eu agradeço.
— Pode ser amanhã? Eu estou um pouco cansada — ela respondeu, ficando em
pé. — Levante-se! A nossa estação é a próxima.
Levantei-me, tal qual ela basicamente ordenou-me. Mas como disse, eu
detestava transportes públicos porque eles me detestavam. Os apoios não eram
meus melhores amigos também. De qualquer forma, eu saí apenas com o joelho
direito um pouco machucado – talvez com um enorme hematoma roxo.
— Você é tão desastrado! Quando irá se acostumar com os transportes
públicos? — ela disse, quando chegamos à estação, descendo do trem, enquanto eu
enlaçava-a. — Eu ainda não entendi como eu fui parar nas mãos de um riquinho
mimado como você! — ela completou balançando a cabeça rapidamente. E então ela
continuou a dar uma risada gostosa de ouvir – como eu amava aquela risada.
O apartamento de Caius, que ele me emprestava sem peso algum na
consciência, já que eu não tinha nenhuma residência fixa nos Estados Unidos,
ficava em Upper East Side, Manhattan. Não era um apartamento que se encaixava
aos meus padrões, mas a companhia que eu tinha tornava qualquer lugar, por mais
horrendo que este fosse, belo. Mas Isabella considerava aquele ambiente belo,
principalmente pela decoração interna.
Logo, andando calmamente enquanto conversávamos sobre o filme
entediante, nós chegamos e entramos no prédio, subindo os poucos andares pelo
elevador, e nesse meio tempo, eu tinha em mãos as chaves do apartamento.
Aquele não era um ambiente simples e eu já o conhecia a muito,
logicamente, por ser amigo de longa data de Caius. A sala era enorme, tal qual
a sala de jantar, a cozinha e os dois quartos. A decoração era simples,
seguindo a linhagem branca, exceto pelo fato de uma parede ou outra destoar
daquele tom e variar para o marrom; a maioria das paredes era daquela cor,
assim como o carpete de madeira também o era. Entretanto, para mudar um pouco
aquela expressão sem vida, havia fotos de pontos turísticos e pinturas do
próprio Caius espalhados na sala e nos corredores. Eu me sentia incrivelmente
bem naquele lugar, mas era pela presença que eu tinha em minha companhia.
Tão logo entrou naquele ambiente, Isabella sentou-se no sofá branco para
tirar os saltos. Ela ficava pequena sem aqueles saltos, mas não era a altura
que me importava e sim o caráter dela. Suas características me conquistaram de
uma forma que nenhuma outra mulher me conquistara.
— Quer que eu te leve para a cama? — eu a perguntei, sugestivo. — Você
está tão cansada.
— Ainda bem que você sabe disso — ela me respondeu, enlaçando o meu pescoço
enquanto eu a pegava nos braços. — E não venha com esse olhar de cachorro
arrependido. De mim, hoje, você não conseguirá tirar nada.
— Perdão? — eu disse jocosamente.
— Haha, Gustave Wenzel! Quem não te conhece que te compre.
O Português dela era claríssimo, inclusive no que condizia ao referir-se
ao ditado no idioma, já que ela se graduara para dar aulas neste idioma. Mal
sabia ela que eu a entendia perfeitamente, mas eu precisava manter minha
identidade sob o anonimato, inclusive dela. Mas, de certa forma, e eu sabia ser
errado, ela fizera exatamente o que o dito popular dizia: ela não me conhecia
tão bem, porque eu não dava abertura necessária para isso.
Quando chegamos ao quarto e eu a dispus sobre a cama, ela reclamou.
Queria fazer sua higiene bucal, tal qual eu também queria fazer a minha. Assim,
ela seguiu por conta própria para o banheiro, mas assim que pegou a pasta de
dentes em mãos e a abriu, empurrou-a em direção a mim com força, fazendo uma
careta que eu nunca a vi fazer anteriormente.
— O que houve? — perguntei, preocupado.
— Esse cheiro me enoja. Tal qual o cheiro da manteiga da pipoca que você
comeu.
Meu coração acelerou. Eu achei que teria um enfarte ali mesmo porque eu
já estava pensando coisas que iam além da minha capacidade mental. Ela poderia
estar gravemente doente ou grávida… Eu precisava leva-la ao médico.
— Pare de me olhar com essa cara de piedade! — ela disse, aumentando o
tom de voz dela ligeiramente. — É um enjoo bobo. Eu sempre os tenho.
— Sempre os tem? E você vem me contar essa merda agora?
— Tudo bem! Agora a errada sou eu?
— Claro que é! Você acha que a saúde é uma coisa tola, um brinquedo para
uma garotinha de cinco anos brincar? Lógico que não, Isabella! Gesundheit ist
das höchste Gut!
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TRADUÇÃO (Livre):
Gesundheit ist das höchste Gut! – Ditado alemão: Saúde é o bem mais
precioso.
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— Eu sei o que eu estou fazendo, Gustave! E eu não entendi nada do que
você me falou e tanto faz, de qualquer forma — ela fechou a porta em minha cara
naquele instante, trancando a mesma em seguida. Aquilo me enervou ainda mais
porque eu sabia que ela precisava de cuidados. — E saia de trás da porta.
Eu podia prever as ações dela naquele banheiro fechado: ou ela estava se
debruçando sobre a privada ou estava engolindo remédios à base de Tartarato de Ergotamina naquele momento sem estar com prescrições médicas. Aquilo me enervava
ainda mais.
— Vou ligar para o seu irmão — ameacei.
— Ligue. Ele já sabe o que eu tenho.
— Você não sabe mentir, Isabella.
— E você também não.
Era verdade: eu não sabia mentir, mas, de qualquer forma, eu já estava a
ponto de pegar o celular apenas para ligar para Emmett e ouvi-lo mandar-nos o
próximo voo para Massachusetts.
Entretanto, alguns minutos depois, quando minha aflição tornara-se um
estado de ansiedade e eu estava sentado na cama de casal, ela abriu a porta do
banheiro novamente. Estava muitíssimo pálida e apoiava-se na parede apenas para
não ter que necessitar da minha ajuda, de tão orgulhosa que era, e eu sabia que
se tentasse chegar perto dela para ajuda-la, levaria um tabefe em minha face;
evitava, portanto, tal ação.
— Quando eu disse que não precisava de ajuda, eu estava mentindo — ela
disse, confessando finalmente. — Eu sei o que eu tenho e era sobre isso que
falaria com você amanhã, mas…
— Sim?
— Eu estou melhor. Só me ajude a deitar na cama. Amanhã nós falamos
sobre isso.
— Certeza? Não quer voltar para Boston?
— Absoluta é a minha certeza.
Eu a guiei para o lugar que ela havia me pedido, sentindo-a com as
pernas um pouco fracas. Mas assim que cobri com o edredom, percebi que ela já
estava em um sono profundo, o que não era muito comum se partisse dela. Era
melhor que eu verificasse a quantidade de remédios que ela havia tomado.
Não havia remédio algum, entretanto. Nada no armário de remédios, nada
na bolsa de cosméticos dela e muito menos no lixo. Nem mesmo um teste de gravidez,
que era impossível de esconder em qualquer canto que fosse daquele banheiro por
maior que este fosse.
E naquela noite, eu não dormi, preocupado com ela, que parecia bastante
incomodada enquanto dormia, balbuciando coisas que passavam longe da minha capacidade
entender. Eu me sentia morrer um pouco a cada segundo que eu a via passar mal,
mas eu não podia fazer nada que fosse além de olhar para ela, de tão orgulhosa
que era a ponto de não me deixar leva-la ao médico. Isso me deixava com a
sensação de incapacidade, mas aquele era o desejo dela. Era melhor não
contradizê-la; iria optar por ela contar-me por conta própria o que se passava
naquela cabeça dela. Seria melhor para ela e para mim também.
(∞) Flashback Off (∞)
Um solavanco me assustou. Parecia que eu não
cochilara muito, mas me surpreendi, já que dormi viagem toda até Altenrhein. O
motorista estava estacionando o carro na garagem do aeroporto quando eu
acordei, após o susto, fazendo-me crer imediatamente que aquela sacudidela que
senti havia ocorrido pouco depois de uma brecada. Ao longe, vi um carro se
afastar e seu motorista insultar-nos, possivelmente porque buscava a mesma vaga
que o meu motorista.
— Desculpe-me, Vossa Majestade, por lhe acordar —
meu motorista disse-me.
— Foi bom que me acordasse ou eu teria uma
sincope.
— Está tudo bem com a Vossa Majestade?
Balancei a cabeça positivamente e desta forma ele
saiu do carro para abrir-me a porta traseira para que eu também pudesse sair.
Rapidamente, ele já estava na parte traseira do carro para pegar as minhas
malas.
Aliviado eu só consegui me sentir apenas quando
me vi sentar na poltrona de meu jatinho, após passar por toda a burocracia de
todas as vezes que eu precisava viajar, o que era entediante. Eu me sentia
muito engraçado quando as benditas atendentes dos guichês me olhavam quando
pegavam meus documentos em mãos, descobrindo minha diferença em relação aos
demais passageiros que elas viam diariamente, como se isso fosse algo demais.
Eu ria-me por dentro referente a essa situação.
— Guten Morgen! Gute Reise! — disse a suíça loura
e alta que para mim nada tinha de atrativo; os olhos dela eram verdes e
radiantes, mas era a única coisa bonita nela.
— Vielen Dank.
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TRADUÇÃO (Livre):
“Bom
dia! Boa viagem!”
“Muito obrigado.”
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Eu pude senti-la fuzilando-me por não dá-la muita
atenção, falando, à colega de guichê que eu era um “Schwul”, ou seja, bicha. De
qualquer forma, se eu fosse, não era do interesse dela. E como eu disse
anteriormente, eu só me senti totalmente bem quando me encostei à poltrona do
meu jatinho. Assim, ali, eu me vi livre de julgamentos sem nexo; ali, também,
me vi distante de Demetri e Sulpicia.
Mas, de alguma forma, eu estava me livrando de um
montante de problemas para entrar em alguns outros, estes que eu resolveria com
minha tia caçula, Renata. Ela era tão boa em dar conselhos quanto minha mãe,
fosse estes relacionados aos negócios ou lições de moral. Não que ela fosse tão
mais velha que eu, mas sabia utilizar as palavras nos momentos certos.
E era em momentos frustrante como esses que eu
colocava as frases que Renata sempre me dizia: Ende gut, alles gut.
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TRADUÇÃO (Livre):
“Tudo está bem quando acaba bem”
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