Parte II
Com um susto, acordei, sentindo meu coração batendo
aceleradamente. Rapidamente, levei minhas mãos a minha face, na tentativa de
levar todo o meu sono para longe e não obtendo nenhum mínimo de sucesso. Então
eu percebi que o motivo de eu ter acordado fora uma lembrança que tive de Esme
– e eu me senti um pouco incomodo por isso.
Por mais que Esme fosse a melhor mãe do mundo, até aquilo que
eu considerava e conhecia, sendo, inclusive a mais compreensiva, a lembrança
que tive com ela me deixou aflito, ainda mais por haver alguma coisa a ver com
o fato de ela desejar incessantemente conhecer Isabella e eu correr o risco de
magoar a minha amada; de qualquer forma, eu ferira-a ao ponto de ela recorrer a
outro para me esquecer.
Maldita lei… Maldito era o meu sangue nobre… Malditos! Eu não
queria nada disso; eu queria (e precisava) de Isabella Marie Swan para mim o
quanto antes.
Os devaneios meus foram despertos por uma batida rápida na
porta, seguida pela voz de Athenodora, o que me fez olhar o relógio eletrônico
ao lado da cama; eram sete e quinze, início da noite:
— Edward, você tem meia-hora para se ajeitar. Estamos te esperando
na sala.
Quis, repentinamente, fugir. Não estava muito interessado a
fazer outra coisa que não fosse ler ou trabalhar; por outro lado, eu sabia que
as intenções de Athenodora e Caius era justamente me tirar dessa mesmice que
tomava a minha vida, pois desde o momento que deixei Isabella em Toronto, a
única coisa que tem completado cada minuto meu em que eu estivera acordado fora
o trabalho. Eu não entendia como não me cansava. Eu cansei-me das pessoas ao
meu redor, mas do meu trabalho, não.
Como eu não respondi, minha prima tornou a falar:
— Está tudo bem ai dentro?
— Sim — respondi prontamente, voltando a passar a mão na
face. — Vou tomar um banho e já desço.
— Ótimo — ela falou-me, como se estivesse em um triunfo, mas
eu sabia que não era bem dessa forma que ela deveria estar naquele momento; eu
senti tal ação quase rídicula. — Esse
é o tempo de Felix chegar até aqui.
Revirei os olhos e achei ótimo o fato de ela sequer estar
perto de mim o suficiente para perceber tal ato. Só então eu me ergui da cama para
tomar meu banho.
Ali, sob o chuveiro – ainda que eu tivesse a opção de
utilizar-me da banheira daquele amplo lavabo –, eu pude pensar um pouco melhor
sobre as atitudes que eu estaria, em breve, tomando em relação a Tanya. Mal
cogitava ela que eu tinha planos para o seu futuro e isso estava ligado à Vaduz
também, mas bastava saber se Caius iria aprovar tudo isso e por saber o quanto
ele era preocupado com a própria filha – e eu pensava isso sob uma ironia –,
sabia que provavelmente ele deixaria Tanya sob meus cuidados, talvez pensando
apenas uma vez se aquilo trar-me-ia danos. Para Caius, Tanya era um dano.
Escolhi, por
fim, a primeira roupa que me apareceu no armário. Por sorte, ela era esporte fino;
se não fosse isso, eu corria o risco de parecer um palhaço na rua ou ver
Athenodora me repreender. Apesar de tudo, eu sabia que a escolha que fizera
fora boa e que muito provavelmente minha prima me elogiaria por isso. Era um
clássico que a maior parte dos homens regularmente usavam que por conta da
minha profissão eu era obrigado a rejeitar; ternos e gravatas eram
desconfortáveis a maior parte das vezes para mim, que era obrigado a usá-las.
Sobre minha cama em alguns minutos haviam uma calça social escura, tal qual uma
camisa de lavagem clara e um blazer da mesma cor que a calça que usava; para
completar, mocassins e cinto da mesma cor. Caso eu precisasse sair dali para
uma reunião, bastava apenas trocar os sapatos e colocar uma gravata.
O perfume
foi apenas um complemento. Um complemento que Renata, minha tia, após sua
última viagem da França a Liechtenstein, me dera e que eu pouco usava. Eu tinha
conhecimento de quão caro era aquele frasco pequeno e exatamente por isso eu o
usava raramente, como se eu nutrisse uma espécie de dó. Eu, após viver nas
condições que vivi, jamais compraria uma coisa daquelas, com o preço
exorbitante que era.
Decidi não
me prolongar mais. Vesti-me e desci as escadarias após colocar minha carteira
com os cartões de crédito e meu celular no bolso interno de meu blazer, se bem
as pessoas que talvez quisessem falar comigo estivessem comigo. Talvez aquilo
não fosse nenhum pouco necessário.
Quando
cheguei a sala de estar, Felix estava ao bar, conversando com Caius, enquanto
Athenodora conversava com nossa tia, Renata, que pareciam tratar de um assunto
interessante e, até, intrigante. As duas estavam com a mesma faixa de idade, o
que tornava fácil o desenvolvimento daquela conversa. Eu estava deslocado; era
como se eu não fizesse parte daquilo ali.
— Vamos? —
eu disse, colocando minha mão direita na nuca, esperando que a resposta deles
fosse positiva. — Pelo visto, sou o único aqui que não bebeu ainda.
—
Você demorou tanto, Edward, que os rapazes acabaram fazendo um esquenta — Athenodora falou, dando uma risada alta, demonstrando que ela
já tomara algumas doses de tequila ou vodca. — Não, na verdade você não demorou
muiiito — ela acusou, claramente alta
—, porque Renata chegou a pouquíssimo tempo, mas vocês dois ainda não beberam
nada e eu considero isso ótimo, já que vocês levarão e trarão o carro. Caius
mandou o motorista levar Tanya para a casa da avó mesmo — ela completou e deu
de ombros, por fim. — Quem vai guiando o Freelander é o Edward, agora.
Eu não bebia
frequentemente, já que não fora acostumado a tanto, mas eu sentia que precisava
de um porre daquela vez. As notícias que me tomaram no início daquela tarde
estavam bem vivas em minha mente e a cada momento parecia menos agradável. De
qualquer forma, eu estava totalmente tranquilo sobre a forma em que nós
voltaríamos para casa, pois nossa tia não tinha o hábito de beber; seu único
vício era o cigarro, mas isso ela estava tentando se desgarrar.
Daquela
forma, minha prima me lançou no ar as chaves do Land Rover e eu peguei-as com a
mão direita antes que as mesmas batessem no chão. Aquele era um péssimo hábito
– ao qual precisei me adaptar – de Athenodora e, portanto, dei de ombros tal
qual ela fizera anteriormente, sentindo que Renata estava ao meu lado,
estendendo-me o braço para que pudéssemos sair daquele ambiente que parecia-lhe
desagradável. Ela só queria ouvir um pouco de música e dançar um pouco para
poder se divertir; e eu queria ficar em casa, assistindo filmes dos anos
cinquenta com uma pipoca do meu lado e tendo uma boa companhia comigo também,
se bem a única boa companhia agradável que eu era capaz de ter era Isabella,
pois ela era uma boa crítica e cinéfila. Ao que parecia, Renata e eu faríamos
uma boa companhia um ao outro àquela noite – assim eu esperava, ao menos.
Eu conhecia remotamente o lugar que íamos, pois já estivera
lá anteriormente, igualmente arrastado por Athenodora e Caius. Era realmente
badalado, como minha prima dissera, sendo que, constantemente, via-se andando
por seus ambientes membros da realeza britânica, que era rondada com muita
facilidade. De alguma forma, nesse quesito, eu aceitava muito melhor ser
Príncipe Soberano de Liechtenstein. Por mais que eu tivesse que administrar um
país, este era quase desconhecido aos olhos de outros países que não fossem a
própria Liechtenstein, a Alemanha, a Suíça, Suécia e França. Os demais países
praticamente me conheciam como um magnata da área de Editoração, já que
continuava a administrar a empresa fundada por minha mãe em Paris, junto a
Renata, ainda que estivesse a maior parte do tempo em Liechtenstein.
Meia-hora – não mais, não menos – foram necessários para que
eu chegasse aquele local tumultuado. Ele ficava bem a centro de Londres,
enquanto a casa de Caius ficava nos arredores da cidade, tornando a mesma um
porto seguro, principalmente por estar dentro de um condomínio.
Dentro de mim, algo dizia-me que eu deveria estar com um pé
atrás ao entrar naquele local após confiar as chaves do carro ao manobrista.
Era como se eu devesse não me sentir parte dali; tudo era preocupante demais.
— Está tudo bem, Edward? — Renata me perguntou,
segurando meu cotovelo ligeiramente assim que eu parei.
Minha tia era uma mulher jovem,
alçando a idade de Athenodora e minha, e poderia, facilmente, parecer que era
um caso meu. Por andarmos sempre muito juntos, isso parecia que nós éramos um
caso, apesar de sabermos muito bem que isso não era nem de perto uma verdade. O
carinho que Renata nutria por mim era quase maternal,
por mais que tivéssemos praticamente essa idade. Além disso, minha tia era a
sábia que Sulpicia não era, além de ter a beleza que sua irmã não tivera quando
atingiu essa idade; nesses quesitos, ela facilmente se assemelhava a Carlisle,
meu pai, por mais que não se parecessem muito fisicamente, senão pela cor dos
olhos – azuis, como a safira.
— Repentinamente, eu sinto como se não devesse estar nesse
lugar. Talvez seja uma sensação passageira, como eu espero que seja. Eu não
farei vocês perderem uma viagem por uma sensação estranha que eu tive.
— Você tem certeza
de que tudo está bem? — ela perguntou novamente. — De que adianta você me falar
isso? Para mim, não adiantará de nada.
— Nós vamos entrar — reafirmei. — Se for uma indisposição
minha, eu volto para casa. E caso seja uma sensação idiota, eu tenho certeza de
que isso irá passar.
— Tudo bem — ela, por fim, afirmou. — Eu estarei ao seu lado.
Para mim, aquele aperto em meu peito não tinha significado
algum. Para mim, naquele momento.
Talvez aquilo significasse que eu estava definhando aos poucos; talvez eu
devesse dar mais atenção ao que realmente era de importância e não somente aos
negócios. Eu sentia, algumas vezes, minha saúde exigir um pouco de mim, mas não
de uma forma que devesse me parar totalmente apenas para me dedicar a tal
situação; enquanto isso não acontecesse, eu não pararia tão cedo.
Athenodora abriu o caminho após identificar-se na portaria.
Ser conhecida em Londres como ela era significava o mesmo que ter o passe livre
para as melhores baladas daquela cidade. Ao que parecia, Caius não reclamara
com sua futura esposa em relação ao pub simplesmente porque minha prima era
importante para ele e teimar era a mesma coisa que colocar a relação que
nutriam em risco; não era uma coisa sensata a se fazer.
Não era surpresa para mim que nós
fossemos guiados ao ambiente VIP – ou V.I.P., como dizia, soletrando, a minha
própria prima. Ser Athenodora Baumgartner Denali tinha lá suas vantagens,
principalmente por ser ela a pessoa que era; Felix aproveitava-se da fama de
seu pai também, para coisas que, não raras vezes, traziam vantagens. Eu poderia
utilizar-me de meu nome também, mas eu preferia me manter neutro desde sempre;
isso não significava tanto para mim quanto significava para aqueles dois ou
quanto significava para Demitri. Para ser sincero, eu julgava tal situação até
um pouco ridícula, para não ter que chamar de outra coisa.
Nós subimos as escadarias
iluminadas por luzes neon. A música que tocava naquele ambiente era diferente
daquela que era tocada no andar inferior, sendo, inclusive, mais agitada, e a atmosfera
era, também, mais respirável por ter menos pessoas transeuntes por ali, afinal
o preço daquela parte da Casa era exorbitante, não importando o dia da semana
que era; isso era a situação pormenor – a casa, por famosa que era, ficava
movimentada a semana inteira. Tudo ali me irritava: o excesso de contato com as
pessoas, as luzes que me cegavam e a música que me irritava por não ser um
estilo admirado por mim, já que eu detestava música Eletrônica e seus
subgêneros, além de não conseguir imaginar como uma pessoa conseguia chamar
aquilo de música. Eu preferia a
escuridão daquele lugar e seus sofás afastados das pessoas.
Ao menos a ciência de Renata
acendeu e indicou que eu não queria ficar perto do público frequentador daquele local. Por causa dela e
também por escolha minha, direcionamo-nos a um ambiente bem afastado de todas
as pessoas ali, e este estava bem encostado na parede. As luzes, não raramente,
ainda chegavam aquele local, mas ainda assim era menos iluminado que a pista
daquele lugar; a música soava cada vez mais irritante aos meus ouvidos.
— Anime-se, primo — disse Felix, parecendo bem menos alterado
que sua irmã, por mais que tenha tomado algumas doses de conhaque antes mesmo
de chegar aquele ambiente, tal qual ela mesma fez. — Tome uma vodca ou um
uísque e junte-se a nós.
O conselho de Felix não era o dos melhores, mas era
aceitável.
Quando levantei-me de meu assento e segui em direção ao bar,
a música eletrônica deu abertura ao Ska, o que eu agradeci a Gott, honestamente dizendo, pois aquele
era um estilo musical que se adequava mais facilmente aos meus ouvidos, ainda
mais por ter a agradabilíssima voz de Gwen Stefani e sua banda, o No Doubt. No More Summer estivera em minha cabeça
alguns momentos de minha vida e agora voltava, trazendo tudo novamente à tona.
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TRADUÇÃO (Livre):
Gott: Deus
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I’ve been wasting all
this time
But I can’t
let go
‘Cause it’s
just the way I feel
Getting used
to your mistakes
But I can’t
let go
Do you ever
think I’ll heal?
And you
could be right
And I could
be wrong
Year after
year always rewinding where we’ve gone
Parecia
uma música com letras ridículas, mas elas ficavam em minha cabeça. Trazer as
lembranças relacionadas ao meu passado não eram muito boas naquele momento,
ainda mais quando eu estava prestes a ir ao bar para pedir uma dose de vodca.
Quando ali cheguei, após acelerar meus passos e desviando com
meu cuidado mais meticuloso, falei a barwoman:
— Uma dose
tripla de vodca.
Senti que ela me olhou com curiosidade. Algum tipo de
curiosidade que ela não teria geralmente, mas, rapidamente, deu de ombros, como
se encarasse que eu fosse qualquer tipo de bêbado qualquer, que frequentava
aquele tipo de lugar regularmente. Ela era joveníssima e estava vestida com o
uniforme padrão daquele ambiente – camisa, calça e sapatos pretos, sendo que
somente o primeiro tinha costurado o emblema da empresa – e seu cabelo estava
levemente repuxado para trás em um coque que parecia bem estruturado.
Quando ela retornou, me observou com um misto de surpresa
enquanto eu sorvia a primeira dose daquela bebida, que pareceu descer rasgando
por minha garganta devido a sua temperatura gélida. Somente depois disso, eu
prestei bem a atenção naquela ruiva; ao que parecia, ela tinha muito a me falar
e o fez enquanto registrava o meu gasto na comanda que eu deixara sobre a mesa.
— Espero que
a sua intenção ao beber essas doses não seja afogar suas mágoas ou esquecer um
amor. Alerto-lhe, de antemão, que isso não dará muito certo.
— O que te
faz pensar isso sobre mim — e eu observei a pequena identificação desenhada em
aço, tal qual um broche, em seu peito e completei com seu nome a frase —,
Victoria?
— Você
parece ser alguém que sempre teve tudo em sua mão. Parece ser o tipo de cara
que gosta de manipular tudo e todo mundo ao seu redor.
— Se assim fosse, eu mandaria você se retirar
da minha frente nesse exato momento.
— Pois é ai
que você se engana — ela disse, reclinando-se com facilidade sobre o balcão que
dividia nosso contato enquanto eu me sentava na banqueta ali disposta —,
simplesmente porque você não manda
aqui. Pode mandar em seus empregados, mas não em mim e não em ninguém aqui.
— O… — eu
estava começando, exaltado.
— Olha aqui
você… — ela retrucou, entregando-me a comanda de gastos e passando por cima do
que eu ia começar a falar — Não é um ádvena como você que me fará pensar antes
de falar o que eu falarei e talvez eu seja mais jovem que você, mas sei muito
mais da vida. Isso começou com um pequeno conselho e se você quiser, talvez
seja hora, de fato, de correr atrás da sua amada, porque o que falta em você é
coragem!
Aquilo caiu
sobre mim como uma bomba. Como uma desconhecida parecia conhecer tanto sobre a
minha vida? E como ela ousava dizer que eu não tinha coragem suficiente para
enfrentar Isabella? Essas últimas palavras proferidas por Victoria só me
fizeram pegar meus copos e sair daquele bar, irritadiço, e a música que começou
a tocar – em um estilo totalmente diferente do Ska anteriormente tocado – só fez
meu humor piorar; o refrão romântico era a pior parte de All We’d Ever Need:
I should
have been chasing you
I should
have been trying to prove
That you
were all that mattered to me
I should
have said all the things
That I kept
inside of me and maybe
I could have
made you believe
That what we
had was all we ever need
E então meu
peito pareceu congelar. Meu coração deu sua última batida, apenas, e depois
resolveu, simplesmente, paralisar em meu peito, não querendo corresponder ao
seu comando automático. A adição Victoria, Lady Antebellum e a cena que me eu
vira não devia me deixar com a melhor das caras e, talvez, se não fosse o fato
de eu estar paralisado, não teria me deixado com a melhor das reações.
Ela estava ali. Isabella estava ali, tal qual Rosalie. E se meu sinal de atenção estava
certo, junto a elas estava o tal Jacob. Pude ouvir, bem ao fundo, a voz
reconhecível. Eles estavam se divertindo, trocando piadinhas e risadas.
Rapidamente,
senti minhas bochechas queimarem, tal qual o plástico ou papel quando ambos
eram destruídos pelo fogo, mas senti-me pior quando pareceu que um buraco negro
fora aberto no chão. Ver Isabella com outro homem foi a pior merda que me
aconteceu desde a morte de meus pais, que consequentemente gerou a separação
dela e minha. Eu não desistiria de minha Bella
por mais que Rosalie tivesse feito uma lavagem cerebral nela. O modo que ela
parecia feliz ao lado de outro homem pareceu me matar, mas isso não era nada se
comparado em como as atitudes dela mudaram naqueles anos que se passaram; eu
jamais imaginaria ver Isabella vestida da forma em que se vestia naquele
momento – usando um vestido preto e curtíssimo e um salto vermelho e altíssimo
–, pois aquilo não era do seu feitio, por ser sempre tão clássica.
Athenodora e Caius estavam certos quando
disseram que Isabella estava me trocando.
Fui obrigado
a engolir seco e forçar algum movimento até o ambiente em que minha família e
eu escolhemos para ficar. Daquela forma, com as mãos trêmulas, repousei os
copos que estavam em minhas mãos sobre a mesa antes de sentar-me em um canto um
pouco afastado de Renata, que estava na outra ponta do sofá conversando com
minha prima – já parecendo um pouco mais sóbria que o momento em que estávamos
na casa de Caius; eu entornei rapidamente as duas doses restantes da vodca
garganta abaixo, tentando ocultar o som da música irritante, que trocara para
alguma coisa mais dançante que o estilo romântico; ao longe, eu reconheci a voz
de Lena Katina cantando alguma música
em sua carreira solo. Aquilo era irritante.
Quando olhei
de volta para o ambiente em que estive anteriormente, eu não os vi mais e eu
não sei se foi isso que me frustrou mais que o fato de eu tê-los visto ali.
— Edward —
Renata disse, chamando minha atenção repentinamente, e fazendo-me virar meu
rosto em sua direção ligeiramente. — Edward — ela repetiu em um tom preocupado
em sua voz —, você está completamente pálido.
— Acho
melhor eu voltar — eu disse ligeiramente e pegando-me de surpresa.
— O que… —
minha prima resolveu entrar no assunto.
Renata
ergueu-se do seu lugar e veio ao meu encontro, parecendo tão protetora quanto
Esme um dia foi. Eu estava perfeitamente na ordem para ir embora com meus
próprios pés, mas mais pareceu que ela queria encarnar a mãezona, já que nunca
pode ter filhos. Daquela forma, ela passou a mão em minhas costas, orientou-me
até o caixa, onde pagou a nossa comanda por mais que eu insistisse em fazê-lo,
e, em seguida, tirou do bolso de meu blazer a chave do carro.
— Você não
precisava fazer isso — eu alertei-a, sentindo o efeito do álcool bater-me. —
Você não precisa ter piedade de mim.
— Edward, eu
não sou bem o tipo de pessoa que sente piedade — ela disse, abrindo a porta do
passageiro para que eu entrasse e assim que o fiz, deu a volta no mesmo e tomou
seu devido lugar no banco do motorista antes de voltar a falar enquanto eu
colocava o cinto: — e se você mesmo não é capaz de sentir tal coisa por si
mesmo, quem sou eu para fazê-lo? — Ela sorriu brevemente antes de passar a mão
por seu cabelos para prendê-los em um rabo de cavalo, antes de colocar o câmbio
em ponto morto, puxar o freio de mão e introduzir a chave na ignição. — Agora
faça o favor de me falar porquê você…
— Não se
preocupe comigo, Renata.
Ela me
lançou um olhar feio, típico de seu irmão. As íris azuladas eram semelhantes e
transmitiam as mesmas coisas que Carlisle, vez por outra, transmitia para mim:
raiva. Eu podia muito bem optar por não falar e ter Renata como uma espécie de
inimiga ou, simplesmente, falar tudo o que acontecera naquele pouco tempo
dentro daquela casa de shows e ouvir suas palavras pacientes e cheias de
palavras de moral. A primeira parte era péssima, pois eu não conseguia ficar
muito tempo sem falar com ela; a segunda parte era boa, pois ela via a vida de
uma forma muito mais crítica que eu.
— Renata —
eu comecei, fingindo um sorriso —, isso não deve…
— Foi a sua Bella — ela afirmou. — Athenodora me
mostrou a sujeita.
Ruboresci de
raiva. O que passou na minha cabeça possivelmente era ridículo, mas pensei
naquele momento após a fala de Renata que aquela situação fora armada por minha
prima apenas para eu ficar ressentido. Se fora realmente isso, Athenodora me
pagaria.
— Você ficou
vermelho, Edward. Isso é raiva?
— Lass
mich in Ruhe! — eu
disse, tentando ser o mais bruto e irônico possível.
— Eins,
zwei, drei…
— Kacke! So
ein Mist! Leck mich am Arsch!
_____________________________________________________________________
TRADUÇÃO (Livre):
Lass mich in Ruhe! – Deixe-me em paz!
Eins, zwei, drei… – Um,
dois, três…
Kacke! – Merda!
So ein Mist! – Que droga!, Que
saco! ou Que porcaria!
Leck mich am Arsch! – Popularmente, "vai
tomar no c*", mas tem, também, um sentido mais bonito que esse!
_____________________________________________________________________
— Vá
descontar a porra dos seus dramas em cima da Athenodora, seu mal-humorado! —
ela disse, apertando firmemente o volante com suas mãos grandes com dedos
finos, observando-me com seus olhos azulados que demonstravam raiva.
Eu sabia que
tinha ido longe demais e precisava pedir desculpas para ela, mas meu ego era
grande demais. Eu precisava aprender a falar palavras cheias de apologia e eu
sabia que mais que ninguém, Renata me compreenderia.
— Er… Entschuldigung!
— Não importa — ela disse, dando de ombros e
olhando fixamente para a estrada iluminada que nos levava para fora de Londres.
— A culpa foi minha também. Se eu não começasse isso tudo, certamente você não
teria se estressado e me mandado tomar naquele lugar. As minhas intenções não
foram as melhores ao te falar sobre Isabella e eu imaginei que isso não
importava, mas é totalmente o contrário do que pensei. Ela tem muita
importância na sua vida, mas saiba que eu me importo com você; sou sua tia e
uma das administradoras das empresas da sua família, mas antes de tudo, sua amiga
e espero que você saiba disso.
_____________________________________________________________________
TRADUÇÃO (Livre):
Entschuldigung! – Desculpe!
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Recostei
minha cabeça na janela gélida ao meu lado. E aquilo me fez raciocinar com
frieza a minha vida pessoal – artificio que eu costumava utilizar para analisar
meus negócios. As coisas funcionariam muito melhor se fossem dessa forma.
Em
pouquíssimos minutos, nós estávamos novamente na casa de Caius. As luzes acesas
indicavam que provavelmente Tanya estava de volta naquele ambiente após passar
o restante da tarde na casa de seus avós e com isso Renata e eu não me
importamos em entrar na casa; os empregados nos receberiam da mesma forma,
ainda mais por eu ser hospede do dono daquela residência.
Renata
conhecia-me bem. Ela sabia que naqueles momentos, a minha opção favorita para
esquecer meus problemas era simplesmente trabalhar,
trabalhar
e trabalhar
arduamente. E foi isso o que fizemos até metade da madrugada, no escritório de
Caius, quando finalmente o cansaço nos martirizou, fazendo-a seguir para a sua
casa – que ficava a pouquíssimos metros dali, naquele mesmo condomínio, sendo
de fácil acesso a pé, inclusive –e deixando que eu me recolhesse no andar
superior, no quarto cujas paredes eram azuladas e quase depressivas.
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