11 de ago. de 2013

O meu mundo não é como o dos outros...

O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!
Florbela Espanca

Ando com uma vontade tão grande...

Ando com uma vontade tão grande de receber todos os afetos, todos os carinhos, todas as atenções. Quero colo, quero beijo, quero cafuné, abraço apertado, mensagem na madrugada, quero flores, quero doces, quero música, vento, cheiros, quero parar de me doar e começar a receber.
Caio Fernando Abreu

FANFIC: Liebe und Hass — Capitulo IV

Demorei, mas cheguei. Desculpem-me por isso, mas o tempo corre contra mim, então agora estou aqui, entregando esse capítulo que acabou de sair do forninho, literalmente falando. Espero que gostem! See you soon!


O carro seguiu com rapidez por todas as ruas de Oxford. Entretanto, as ruas não estavam nuas: os automóveis e pessoas inglesas estavam ali, mas andavam com mais rapidez do que eu presenciava ali era totalmente diferente da encontrada em Londres, simplesmente porque as calçadas e as ruas eram igualmente mais limpas de gente e automóveis.
Aquela cidadela, por mais que tivesse mais de cem mil habitantes, poderia ser comparada com facilidade a uma melodia calma de alguma música de British Pop, como Fix You, do Coldplay, e ficando agitada o suficiente à medida que nos aproximávamos da Universidade de Oxford, ganhando um ar quase parecido ao apresentado na música Stop Crying Your Heart Out, do Oasis, que começava a ficar agitada aos poucos, tal qual o ritmo dos alunos, de uma forma quase imperceptível a olhos comunais, que não percebia as coisas atentamente, como eu fazia.
Vez por outra, eu conseguia perceber um grupo de amigos que conversavam, provavelmente, sobre coisas banais, pois sorriam; a juventude dessa época contrastava de forma estranha com a juventude de minha época de graduando, há quase dezoito anos atrás: nós corríamos contra o tempo, fazíamos a coisa funcionar por nosso esforço e muitas vezes, quando encontrávamos pessoas desinteressadas em sua graduação, ficávamos estressados, principalmente quando haviam as apresentações em grupo, pois não gostávamos de pessoas interesseiras. Eu não sabia se a coisa mudara de fato, mas era o que parecia, ainda mais depois da imagem que eu capitara ali, em Oxford.
O carro começou a parar aos poucos, o que despertou-me de meus devaneios, e logo percebi que estávamos próximo ao portal da Universidade, onde estavam muitos outros carros estacionados, dentre eles os velhos e os novos. Aquela era uma das partes que detinham grande movimento e eu sabia que conseguiria passar despercebido com facilidade, ainda que tivesse uma altura e aparência bem diferente de um aluno de graduação, parecendo-me muito mais com um professor de Mestrado. Isso não era importante para mim, ainda mais sabendo que precisava conhecer o futuro ambiente em que a minha Isabella trabalharia e precisava saber se ela seria forte o suficiente para aturar o clima aterrorizador daquela cidade, aparentemente fria, por mais que fosse quase metade do ano, já que ela era acostumada com o clima em Massachusetts, que aquele momento também iria começar a receber o verão.
Optei por esperar um pouco dentro do carro, dando instruções ao motorista sobre ele continuar na redondeza e sempre do lado interno do veículo, pois eu tinha a intenção de não me demorar muito; além disso, por ser a hora do início das aulas do vespertino, era perceptível que aquilo seria idiotice da minha parte – era o mesmo que querer chamar atenção.
Passaram-se quase meia-hora até a situação, ali do lado de fora, melhorar. Então, sem mais delongas, resolvi sair do veículo, observando que, de fato, a maior parte dos alunos foram direcionados para suas aulas, e segui pelo caminho de pedra sem esperar muita coisa. Entretanto, naquele momento, meu celular tornou a vibrar, indicando-me que além da recém-chegada, eu era presenteado com quase vinte ligações e mais sete mensagens, a maior parte vindo de minha prima, Caius ou Marcus, sendo a mensagem da primeira remetente a mais recente. Eu não iria verificar nada que estivesse correlacionado ao meu trabalho naquele momento quase sagrado para mim, mas eu pressentia que no que se tratava à Athenodora, a situação era um pouco preocupante ou era algo, por remoto que fosse, ligado a minha Isabella.
Minha prima parecia prontamente preocupada com a minha pessoa em sua mensagem, o que me deixou, de certa forma, afoito por responde-la, fazendo-me sentar em um banco daquele amplo pátio apenas para responde-la. Ela me mandara:
Primo, você está incomunicável. O que aconteceu?
Respondi-a prontamente, tentando não me deixar abater por sua mensagem:
Estive em um almoço com Rosalie Hale e ela deve ser bipolar, por aceitar o que eu a falei. Aconteceu algo? Estou em Oxford agora.
Prontamente, ela tornou a me responder, fazendo-me crer que ela não se separara de seu celular um só segundo. Sua mensagem expressava um desespero que eu jamais imaginei conseguir ver em minha prima, uma só vez em minha vida:
Algo aconteceu com Demitri e foi algo grave. Sulpicia está no hospital com ele. E nós, sinceramente, não sabemos o que aconteceu com seu irmão, Ed.
Engoli seco, forçando minha mão direita sobre o banco de madeira, buscando alguma espécie de suporte para não andar erroneamente por ali e por aqui. Era evidente que Athenodora não estava brincando em sua mensagem, simplesmente porque seu tom era tão sério que eu jamais fora capaz de vê-la ou ouvi-la daquela forma; isso tudo me deixou tenso demais, até para pensar em alguma coisa racional.
Minha vida estava girando em torno de desastres. E esses desencontros não eram muito interessantes: só serviam para me deixar estressado, ainda mais do que eu já estava.
Tão logo, mesmo que eu não tivesse lhe mandado mensagem alguma para confirmar minha ciência em relação a sua mensagem, Athenodora enviara-me outra mensagem e eu pude considera-la, com aquilo, de fato, desesperada:
Estou indo a Oxford e talvez seja hora de irmos a Liechtenstein. A coisa é grave. Precisaremos resolver coisas sobre os negócios depois.
Senti o frio percorrer a minha espinha. Para minha prima cogitar que eu devesse deixar os negócios em Londres e voltar para Vaduz o quanto antes, de fato o que acontecera ao meu irmão deixara-a preocupada. A situação deveria ser grave, mas antes de qualquer coisa, eu precisava pensar não só em Demitri, como também no que eu estava passando naquele momento, no meu presente, já que muito em breve eu me encontraria com a minha Isabella, pois eu era um homem de palavras e não seria a saúde de Demitri, por mais debilitada que esta estivesse, que me impediria de seguir em frente. E que os tabloides liechtensteinienses falassem o que quisessem. E, tampouco, não seria a porra de uma lei que me colocaria contra tudo o que estivesse relacionado a mulher que eu amava.
EU ESTAVA CANSADO DE SER FEITO DE OTÁRIO: FOSSE POR MEUS PAIS, MEU IRMÃO OU UMA LEI IDIOTA. EU ESTAVA FARTO.
Não estava completamente sensibilizado em relação a Demitri, mas a curiosidade me matava pouco a pouco. Nós dois poderíamos ser gêmeos, mas, talvez, por sermos bivitelinos, éramos tão distantes, não só ao condizente a aparência – exceto por nossos olhos claros e o porte físico semelhante – como também no modo de pensar e de agir; eu nunca cheguei a pensar se tínhamos algum tipo de semelhança a mais: nós, tampouco, tínhamos, na nossa infância, aquela química que sempre disseram-nos que os gêmeos tem a capacidade de ter – aquela, sobre pressentirmos o que acontecia um com o outro –, então, muito provavelmente, nós continuaríamos daquela forma ainda quando adultos. Na verdade, eu sempre pensei em Demitri como um colega, enquanto ele pensava em mim como um inimigo, já que o mundo, no que dizia a herança do trono, se voltava para mim desde muito pequeno; certamente, ele pegou raiva da nobreza depois, por repugnar tal cargo de Monarca – ou fingia muito bem.
Mal me deixei relaxar, após colocar meu celular de volta ao bolso da calça, e ele tornou a vibrar, indicando, daquela vez, que eu não recebia uma mensagem, mas sim uma ligação. Era Caius daquela vez e depois de toda aquela situação que me fora causada por Athenodora, o mínimo que eu poderia fazer era atende-lo, justamente para tentar me aliviar no que se referia ao meu nervosismo, que já estava a flor-da-pele. Talvez ele tivesse consigo algumas notícias de Demitri que, de fato, valeriam a pena:
— Eddie? — ele me chamou pelo apelido que eu detestava, mas foi de uma forma tão polida que eu imaginei que ele, tão logo, queria algo relacionado aos trabalhos que eu deveria desenvolver em Londres.
Respondi-o prontamente:
— Caius, sim, sou eu. Pelo visto não está me ligando para falar algo sobre Demitri.
— O quê? Eu jamais ligaria para você para falar sobre Demitri — ele bufou, então deixou o assunto que falaria comigo ligeiramente de lado e continuou no que eu estava propondo-o. — Aliás, aconteceu alguma coisa com seu irmão, Eddie? Quer dizer, algo que não esteja relacionado ao que ele comumente está envolvido? Eu não sei de nada, também, simplesmente porque estava em uma reunião que o senhor me mandou participar, meses atrás, junto com a senhora sua tia, Renata. E eu gostaria muito que vocês se reconciliassem: ela está muito mal, seja lá o motivo da briga de vocês.
Eu não segurei o meu bravejo:
— Isso agora é sobre Renata também? Se você quer saber o porquê estou frio com ela, o motivo é o seguinte, Caius: ela guarda consigo um segredo relacionado a secretária dela e que tem a ver com a época em que meu pai ainda estava vivo. É o suficiente para você, meu caro amigo?
— Quer que eu corra atrás do assunto? Ou sobre informações sobre Demitri?
— Não precisa — continuei, entredentes. — Sobre meu pai, eu mesmo correrei atrás da notícia, mas no que é condizente a Demitri, Athenodora está vindo para Oxford e nos deixaremos a par de notícias juntos: ela também está preocupado com meu irmão.
Eu não esperei por uma resposta de Caius, pois sabia que aquilo seria ainda mais estressante para mim, então desliguei aquela ligação com o deslizar de um dedo meu sobre aquele celular. Caius, a maior parte das vezes, parecia ser bem solicito, principalmente no que estava condizente a Athenodora, mas no que se tratava a Sulpicia ou Demitri e Liechtenstein, a coisa mudava de lugar, ainda mais após a morte de meus pais. Athenodora, Felix, Sulpicia, Rennznata e Demitri eram minha única família e eu não gostaria de ser uma pessoa sozinha. De qualquer forma, eu não queria ser o único a dar continuidade aos Svensson Baumgartner; caso o que tivera acontecido com Demitri fosse muito grave e mais para o futuro algo me acontecesse também, o que eu não queria que me acontecesse, o trono seria direcionado para algum parente mais próximo de mim e que não tivesse renunciado ao seu nome para se casar (como foi o caso de Sulpícia), o que, dessa forma, faria o trono de nossa família, automaticamente, ser direcionado à Renata.
E alguma coisa me dizia que se o trono de Liechtenstein fosse direcionado a Renata, a vida daquele país seria um caos na terra.
Não que eu fosse preconceituoso, mas Renata não teria jeito para aquilo. Ela não fora criada para tanto e jamais se dedicaria fielmente a burocracia presente em nosso país: antes de qualquer coisa, ela mal creditava o país em que nascera, buscando convencer seus pais a enviarem-na para a França para aprimorar seus estudos na Sourbonne.
Mas fui obrigado a sair de meus devaneios quando notei que era observado, ou melhor colocando-me: perfurado. Rosalie estava a minha frente, contra a outra parede, vigiando-me, provavelmente, desde o momento que adentrei Oxford e pelo jeito que me observava, eu tive certeza absoluta de que aquilo significava que não tinha nada a ver com o fato de ela me guiar ao auditório correto, onde eu veria minha Bella articular sua tese tão perfeitamente, da mesma forma que ela era capaz de fazer quando ainda estávamos no início de nosso Doutorado, sendo capaz de causar inveja aos seus espectadores, inclusive (eu quase tinha certeza) a Rosalie.
Logo, a loura sentou-se ao meu lado e começou a bater seus peep-toes sobre o piso de pedra, fazendo um barulho chato de se ouvir:
— Você chegou rápido demais aqui, não? — perguntei, com deboche, e ficando ainda mais irritado com o barulho de seus saltos.
— Se você tiver um padrasto vulnerável a ameaças, ainda mais quando você sabe demais sobre as traições dele contra sua mãe, e ele tem um montante de carros guardados na garagem da matriz de sua empresa, esperando um dia para serem estreados, não, não cheguei rápido demais — ela respondeu, com os lábios sendo preenchidos por seu sorriso enquanto encaracolava as pontas de seu cabelo. — A Bella está se preparando psicologicamente para a mesa redonda faz algum tempo e se eu fosse boazinha com ambas as partes, eu até levaria você até ela, mas…
— Eu quero vê-la.
— Sim, eu sei. E talvez isso seja possível, já que eu levei Jacob hoje cedo ao aeroporto, já que ele precisava dar continuidade em seu projeto de mestrado junto ao seu professor orientador.
— É muito melhor do que eu pensava — eu disse, quase radiante. — Dessa forma, eu posso me aproximar da minha Bella sem que não haja nenhum empecilho à minha volta, mas não que o tal Jacob fosse atrapalhar a minha aproximação.
— Talvez ele não atrapalhe-a, mas eu sou um caso à parte.
Senti meus músculos dos braços se retesarem quando eu fechei a minha mão com a maior força que podia. Eu comecei a sentir raiva – raiva de Rosalie – por ser uma mentirosa de mão cheia, ainda que eu soubesse que não era uma boa ideia confiar nela. Eu não era tão fraco ou idiota o suficiente para não perceber que eu estava sendo usado como uma isca para ela, mas ao contrário do que ela pensava, eu não faria parte de sua brincadeira de gato e rato.
Contudo, eu imaginei que ela viria com seu discurso, como se se sentisse uma vencedora, antes mesmo de a vitória ser anunciada:
— Talvez você tenha me comprado por algumas horas, mas não o suficiente para eu acordar e ver a realidade. Eu não sei se você percebeu, mas a Profª Drª Isabella Marie Swan é forte o suficiente para segurar as pontas sozinha — ela bravejou, não muito alto, mas continuou. — Faça o favor, para você mesmo, de tentar parar agir como um babaca, como um cão arrependido, e encare os fatos, pois eles serão simplesmente melhores para você.
— Não há nada que você me diga que me fará desistir da minha Bells. Isso não é sobre um pronome de tratamento, é sobre a pessoa que estamos falando, uma pessoa cheia de sentimentos que merece uma explicação.
— Encare os fatos, Edward sei lá das quantas e preste bem a sua atenção nos fatos que contarei agora: eu conheço a Bella há uma boa parcela de tempo e sei muito mais sobre ela que você. Sei o que ela passou quando a mãe dela ficou doente e faleceu, deixando o Emm sob os cuidados dela e de Jasper, além de serem abandonados pelo pai quando ela tinha quinze anos. Isso tudo, ela superou sozinha, remoendo tudo quase todos os dias. Tudo só tornou a desandar depois que vocês se conheceram e você a deixou, deitada em uma cama de hotel em Toronto: veio a doença dela, avassaladora, e o a…
— E o quê? — perguntei-a, preocupado, erguendo-me daquele assento e parando a frente dela, o que a fez erguer o olhar para me observar atentamente. Ela demorou a me responder e eu refrisei: — O que veio depois, Rosalie?
— Eu não tenho a permissão para falar sobre isso, Edward.
— Rosalie… — eu rosnei, com raiva não só dela, mas também de todos os outros que eu já conversara naquele dia, como era o caso de Renata, que me deixara frustrado com o fato de esconder-me, por tantos anos, um segredo em relação ao meu pai. — Estou cansado de as pessoas. Cansei de ver as pessoas em que eu mais confiava deixar-me para trás por causa de uma mentira ou por estarem escondendo segredos que condizem a mim também como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.
— Uhn, que interessante, Edward sei lá das quantas. O que você quer saber, hein? O que você quer saber sobre a Bella que ninguém sabe, nem mesmo os espiões filhos-da-puta que você colocou sobre ela, tirando-a toda a privacidade que tinha? O que você quer saber, hein? — ela bufou rapidamente e então continuou, ficando em pé a minha frente. — Isso é e foi demais para mim e para todos nós, não apenas para você. Aliás, por que você deseja tanto se reencontrar com a Bella?! Para provar que não é o fraco que todos pensam? Você é um nada.
Naquele momento, eu pensei: So ein Mist.
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TRADUÇÃO (Livre):
So ein Mist: do alemão, a expressão significa Que Merda!
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Estava na cara dela que não importava-a quem eu era, ela tomaria todas as dores de Isabella para tentar protege-la. Era, de fato, como se Rosalie fosse uma reencarnação de minha Isabella em uma versão oxigenada e mais bruta, também, e por isso eu achava que não era à toa que elas se consideravam irmãs, mas aquilo tudo era demais, inclusive, para a minha cabeça, o que só fazia-me tentar me controlar para não me ver enervado.
Aquele seria um caminho tortuoso, mas eu precisava passar por ele se eu quisesse ver a minha Isabella novamente, apesar de eu não gostar da novidade que me era transmitida por Rosalie, uma espécie loira e três vezes mais difícil que a minha Isabella. Contudo, por mais que não gostasse daquilo, deixei Rosalie prosseguir com seu discurso até que ela aparentasse cansaço por tanto falar.
— Pronto? — relaxado, eu perguntei, sem me preocupar que tão logo ela poderia dar continuidade em suas falas dramatizadas; quando percebi que, de fato, ela se calara, continuei. — É ótimo que você tenha terminado o seu drama. Você não sabe um mínimo da minha vida, Rosalie, para saber se eu sou o certo ou o errado da história. Existem diversos pontos de vista que demonstram que eu estive certo e diversos outros que me falam que sou o errado, como o seu próprio ponto de vista. É tão simples de entender, ao menos para mim, porque tudo o que me diz agora, eu já ouvi de outras pessoas anteriormente.
— Valeu, Majestade. Foi muito construtivo ouvir sua opinião, mas para mim não dá para ouvir seus tormentos e deixar passar em branco como se fosse a coisa mais natural do mundo; isso não é possível. Eu sou a defensora de Bella e mesmo que ela não pense dessa forma, não vou deixa-la se aproximar de você; talvez, há algumas horas atrás, eu fosse capaz de fazer isso, mas agora, não creio que isso seja possível. E não peço desculpas por isso.
— Crenças, e não peço desculpas por isso também, não são reais.
— A Bella não acreditará em você; ela não acreditará em suas mentiras.
— Eu confesso que menti e que tive a minha parcela de culpa. De qualquer forma, eu não foi o único a mentir nessa história toda: vocês mentiram para mim também.
— Talvez porque não tivéssemos confiança em você e tivéssemos razão — ela sibilou e eu notei seu rosto ficando vermelho, por causa do nervoso que estava sentindo. — Eu sempre soube, de qualquer forma, que quando e se você voltasse, agiria conforme o clichê social: fará tudo parecer um inferno e você se sairá, ou imagina que será assim, como o bonzinho da história. Isso não soa bem assim para o meu lado.
Não queria reouvir aquele discurso, mas eu jurei para mim mesmo que aquelas seriam minhas últimas falas para ela. Retruquei-a prontamente:
— Eu não quero mais ouvir isso: é ignorância em excesso para uma só pessoa. De qualquer forma, apenas para frisar, eu sei que não sairei como bonzinho, ainda que apresente a minha verdade na história — eu disse, segurando-me para não me enervar ainda mais e, por isso, sentindo as unhas cravando as minhas palmas das mãos. — E mesmo que eu saiba que você não quer se informar de uma coisa, eu te direi, Rosalie: não vou ficar aqui quebrando a cabeça contigo, ouvindo um julgamento seu sobre um possível parecer da minha Bella.
Não me preocupava com os pré-julgamentos de Rosalie. Aquilo era tão pouco importante para mim que eu desconsiderava qualquer pensamento dela sobre a minha pessoa. Naquele momento, o pensamento de Bella sobre mim valia a pena e nada, senão aquilo, me faria parar.
Dei-lhe as costas e no instante seguinte, eu já me misturava aos estudantes de Oxford, como um dia eu fora. Mas eu era um destaque dentre eles por minha diferença de porte físico.
Logo, após a indicação de alguns estudantes, adentrei alguns corredores suntuosos e sai em um último, no qual havia a indicação, em uma placa metálica, sobre os diversos encontros relacionados a Linguística e Literatura; ali também indicava-se o nome completo de Isabella e mais alguns teóricos de sua área e o assunto que falariam – a transfiguração de obras literárias para a mídia televisiva.
Naquele instante, eu parei, refreado pelo desespero, ainda que soubesse que, dificilmente, encontraria a sala vazia. E foi dessa forma, de fato, que encontrei a sala, com algumas poucas cadeiras, ao longo do auditório, vazias. E por ali optei por ficar, até o horário de início do primeiro ciclo de mesas redondas, que iniciaram-se dali uma hora, após uma apresentação do desenvolvedor de tal projeto.
O coordenador daquele projeto, eu conhecia por nome, remotamente. Era um especialista da área de Linguística e que era requisitado por isso. Àquela altura, o tempo havia-lhe passado e seus cabelos estavam totalmente grisalhos, mas ainda vastos, sobre a cabeça. Apesar de não aparentar, eu sabia que aquele senhor estava na casa dos oitenta anos.
Eu admirava aquele homem por sua teoria e conhecimento; daquela forma, optei por observá-lo durante a abertura daquele evento, que durou tão somente meia-hora, sendo suficientemente favorecedor apesar do pouco tempo que se prolongou, ainda mais por ser capaz não só refrescar a minha memória em relação a minha área de estudo, mas também por me fazer esquecer os problemas, como Rosalie e Demitri.
Quando o palestrante finalizou seus deveres, o auditório começou a esvaziar aos poucos e eu comecei a sentir meu celular das seus sinais de vida, indicando uma mensagem, de Athenodora, novamente. Ali estava minimamente escrito:
Espero-te no carro.
Enrijeci. Não esperava que fosse tão grave aquela situação ao ponto de ela cumprir com o proposto em suas mensagens. Mas, naquele momento, eu sabia que eu precisava voltar ao real. Não haveria palestra que me faria esquecer os problemas, mesmo porque eles existiam aos montes para eu fingir que eles não existiam.
Ergui-me de meu assento e rumei porta a fora rapidamente, deparando-me com uma multidão que conversava perto de uma grande mesa, sobre a qual estava servido o coffee break. Rapidamente, passei quase despercebido por entre eles, exceto por algumas pisadas em meus pés e recebendo um pedido de desculpas por isso, vez por outra. Entretanto, logo eu estava fora dali, voltando a andar com rapidez por aqueles mesmos corredores pelos quais andei.
Definitivamente, eu precisava de um cigarro, o mais urgente possível. A minha solução era fumar para ficar sem me estressar ou descontar tudo sobre Athenodora quando a visse, o que não seria uma boa opção. Eu já estava mal o suficiente, então sabia muito bem que ficaria pior se descontasse alguma coisa em minha prima depois, pela consciência pesada que teria depois.
Mas andar distraidamente e frustrado tinha suas consequências: quando despertei de meus devaneios, notei os cabelos castanhos, na altura dos ombros naquele momento, logo a minha frente, sendo que a dona era de um porte físico semelhante ao de minha Isabella. Eu estaria muito enganado, redondamente enganado, se a pessoa ali, andando a passadas rápidas, não fosse minha Bells. Parecia que ela queria fugir daquele local, a passadas rápidas, esquecendo para trás alguma coisa que a deixasse completamente frustrada.
Então, assim que parou, ela, tão logo, buscava a parede mais próxima com a mão direita, na intenção de se proteger; com a outra mão, ela começou a massagear as têmporas, como indicasse que sua dor de cabeça estava fortíssima. Não minorei-me: acelerei meus passos e chamei-a:
— Isabella.
Com o meu chamado, em um gesto sutil, ela virou seu rosto em minha direção enquanto eu me aproximava ainda mais dela, parando a pouquíssimos passos dela, ficando logo a sua frente. Eu estendi minha mão a ela para lhe acariciar o rosto, mas eu senti o tabefe, cheio de raiva, parar a minha mão, na tentativa de me afastar:
— Quem você pensa que é para querer me acarinhar depois de tanto tempo?
Eu senti o tom da anátema em sua voz. Ela me queria longe dela ou eu sofreria suas consequências, se bem eu achasse que não existia motivação em sua voz para tal coisa, afinal, até poucos minutos antes, seu corpo estava-a obrigando a parar – basicamente, seguindo uma regra pré-disposta: responda as mensagens que seu corpo lhe envia e pare ou ele, por conta própria, irá te parar – e eu tinha certeza que ela não parara desde o momento em que descobrira sua doença, sequer para tirar um ou dois dias para descansar. E eu senti o peso em minhas costas naquele momento, pois se não fosse por tê-la abandonado naquela noite, em Toronto, certamente ela estaria mais saudável – eu a teria forçado a se cuidar e não aceitaria um não como resposta. Mas eu senti sua raiva em suas palavras: ela, até, poderia nutrir algo bom por mim, mas, ao mesmo tempo, eu tinha certeza de que seu amor por mim havia se desestabilizado por influência do seu ódio por mim. E eu não gostei nada, nada de capturar tal informação.
Ainda assim, não me afastei dela, mantendo nossas mãos muito próximas de seu rosto. Então, sua voz pareceu passar por um caminho tortuoso antes de ela me olhar novamente com seu olhar demasiadamente triste e cansado. Então, ela sussurrou:
— Gustave, não faça isso comigo.
— Isso o quê? Você não acha que merece uma resposta em relação ao que eu te fiz, Bells? — eu a respondi, vendo que ela sedia as minhas investidas, podendo tocar-lhe com delicadeza seu rosto naquela vez. — Eu não fui a pessoa mais honesta do mundo e não sou a pessoa mais verdadeira, também, mas pode ter certeza que tudo o que fiz até agora foi, unicamente, para te proteger.
— Proteger? — ela disse, sua voz falseando, mas ela quase rosnou quando continuou a falar: — Eu não preciso ser protegida de nada; sei me virar muito bem com ou sem você, será que você não percebeu?
— Pare de falar — pronunciei, preocupado. — Você está fraca.
— Não queira falar de mim como se eu fosse uma pessoa que não tem estabilidade para me manter em pé. Eu estou suficientemente bem para continuar aqui e dar uma palestra de horas, se você quer tanto saber, Gustave. Será que pelo tempo que me conhece, não percebeu que nada é capaz de me parar, nem mesmo um mal-estar.
— Isso não é um mal-estar — eu a respondi, vendo-a fraquear mais ainda. — Você pode até mentir para mim, mas não tente mentir para você: é um erro, Bella! Será que você não percebeu ainda? Pare de recusar um tratamento que lhe ajude! Cuide de si, vá em frente e tente se curar! Você ainda pode fazer isso! Não é por mim, é por você; é pela sua família e seus amigos.
— Eu não faria isso. Não enquanto não te encontrasse, Eddie.
Ela sabia? Rosalie havia-a contado! Provavelmente era por isso que a minha Bells estava tão ruim. Ela não merecia nada disso, mas a Schlampe da Rosalie havia-a contado. Isso me martirizou; me deixou mal: eu não queria que ela conhecesse as minhas mentiras da pior maneira possível, mas acabou conhecendo, pela boca de terceiros.
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TRADUÇÃO (Livre):
Schlampe: do alemão, é uma ofensa, algo bem próximo daquilo que chamamos de “rampeira”, ou seja, vadia, vagabunda.
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Então ela tentou fazer em meu rosto a mesma ação que eu produzia em sua face, mas ela, ao invés disso, tombou para frente, em meu peito, fechando os olhos forçosamente com a queda.


O desespero me tomou e prontamente eu a peguei em meus braços. Sabia que era errado, que deveria contar com a ajuda dos paramédicos, mas levei-a o mais rápido que pude para o carro com o qual cheguei em Oxford, abrindo caminho entre os estudantes estudiosos, enquanto os xingava mentalmente em alemão. Então, mais além, vi Athenodora sair do seu carro, e ir em direção ao carro de Caius, logo ao lado, para abrir-me a porta para que eu pudesse adentrar o carro junto com uma Bella desacordada.

Minha prima tentou pronunciar, nervosa:
— O que…
— Sem perguntas, Athenodora. Vamos leva-la ao hospital mais próximo daqui.
Suas sobrancelhas arquearam-se em um meio-arco quase perfeito; as dúvidas estavam ali, mas ela via a minha necessidade em sair dali o quanto antes e deu-me os ombros, voltando ao seu carro para seguir-nos até o hospital mais próximo e que fosse capaz de atender a minha Isabella do jeito que ela precisava naquele momento.
Àquela altura, a cabeça de Isabella estava sobre meu colo, e orientei o motorista a nos levar ao primeiro hospital que me passou pela cabeça – o Churchill Hospital –, pelo qual passamos a caminho de Oxford e que eu sabia estar afiliado a Universidade, além de ter uma boa estrutura para atender a minha Bella. Sem pensar duas vezes, eu tinha certeza de que ela recorreria aquele lugar caso ela tivesse alguma crise. Além do mais, aquilo era o mínimo que eu poderia oferece-la naquele momento, mas não cessaria meus trabalhos na busca do melhor médico e do melhor plano de saúde apenas para salvá-la.
Quando chegávamos aquele lugar, o meu desespero aparentou ser mais mortífero. O motorista acelerava o carro ao máximo, com o risco de trazer uma multa para Caius; a respiração de Bella ficava cada vez mais fraca; e o celular dela começava a tocar estridentemente, escondido em um bolso de seu blazer. Não pensei em atende-lo quando peguei o mesmo em mãos – o mesmo modelo antigo que eu a havia dado há certo tempo atrás – por ser Rosalie, mas eu sabia que ela, em breve, ligaria a sua amiga para saber em que canto da Universidade a mesma estaria, já que em minutos a minha Bella precisaria estar em uma mesa redonda, debatendo sobre sua teoria.
Atendi, mas nada falei; Rosalie bravejou:
— BELLS! ONDE VOCÊ ESTÁ!? ESTÃO TODOS TE PROCURANDO!
— Ela está comigo, Rosalie.
— EDWARD, O QUE VOCÊ FEZ COM ELA?
— Eu não irei gritar, mas eu não fiz nada com ela — disse, extremamente polido. — Se não fosse por mim, ela não estaria sendo levada ao Churchill agora. Além do mais, como você diz que é a melhor amiga dela e deixa-a caminhar por aí sozinha? Você não deveria sair do lado dela!
— O que aconteceu com a Bells? — Rosalie perguntou, preocupada.
— Agora, para você, é Bells, não é mesmo? Mas no que se trata em insistir em relação ao tratamento dela, para vocês, ela é um nada! O que custa o esforço, Rosalie? Isso não é por mim, mas por ela!
— Você não entende — ela bravejou. — Você não esteve lá para observá-la!
— Isso não importa. Estamos chegando ao Churchill.
Desliguei a ligação. Rosalie era uma mestre em dar desculpas, mas no que dizia respeito a saúde de Isabella, eu duvidava que alguém não se permitiria aceitar. Era perceptível que sua doença estava avançando, principalmente com a ajuda da metástase, o que deixava tudo ainda mais avassalador. Mas ela não ficaria nessa situação, se bem dependesse de mim.
Quando retirei seu corpo do carro, os atendentes do Pronto Socorro, tão logo, vieram ao nosso encontro com uma maca, sobre a qual a coloquei, sentindo seu corpo ficando cada vez mais mole. A atendente, uma jovem morena que vestia o uniforme daquele hospital, perguntou-me sobre o acontecido ou se eu podia dar início a descrição do quadro da paciente:
— Câncer. Astrocitoma com início de quadro de Metástase.
Assim como Athenodora, ela ergueu suas sobrancelhas, mas logo começou a guiar a maca junto ao seu colega, que trazia consigo, àquela altura, uma máquina de oxigênio. Meus pés diziam-me que eu deveria segui-los, mas as ações deles, cada vez mais rápidas, diziam-me para ficar.
A enfermeira com quem eu havia falado gritou alto:
— Ala neurológica. Rápido.
Então, o nervosismo tomou conta de mim, de vez. Aquilo era uma injustiça com a minha Isabella, mas eu precisava tomar aquilo como uma lição; uma espécie de castigo por eu ser malvado com ela, por tê-la deixado só em Toronto sem dar-lhe explicações. E eu estava certo de que eu precisava tomar aquilo como lição. Mas dessa vez não haveria ninguém, nem Demetri agonizando em uma maca hospitalar em Liechtenstein – como estava a minha Isabella agora – que me tirasse dali.
— Eddie — eu ouvi Athenodora me chamar, apertando meus ombros com suas mãos firmes. — Venha comigo. Não há nada que você possa fazer agora que vá poder auxiliar a sua Isabella. Tudo o que podemos fazer agora é sentar, esperar e manter o controle; apenas isso.
Eu sabia que minha prima estava certa, mas nada, naquele momento ou no próximo, me faria reduzir o pensamento de inferioridade. Eu era um monstro; o pior dos monstros existentes na face da Terra. Mas Athenodora estava certa – nada do que eu fizesse naquele momento poderia ajudar; então me deixei guiar para a sala de esperas enquanto ela abria a ficha de minha Isabella, quando a enfermeira retornou com a pequena bolsa preta de minha amada, que eu sequer percebera que estivera junto a ela, trazendo os documentos da mesma.
Não sabia como, mas algo me fez reconhecer que ali a minha amada seria bem recepcionada, se bem aquilo não me fosse o suficiente. O melhor médico neurologista para mim era pouco naquele momento: eu não só queria o melhor neurocirurgião do mundo como também a melhor equipe médica.
Era tudo ou nada.
Era a saúde da minha Isabella em risco e eu não arriscaria perde-la novamente.
— Athenodora — eu disse, quando ela se voltou para mim. — Providencie o melhor neurocirurgião e a melhor equipe médica para a Bells. E eu não me importo, realmente, se eles estiverem de férias ou se estiverem aposentados: por ela, eu faço qualquer coisa.
— Já era de se esperar que me dissesse isso, Eddie — ela disse-me, sorrindo. — Já providenciei isso tudo também. Não se preocupe.
Eu sorri em resposta, ficando aliviado. Assim, deixei-me aliviar o pescoço sob as mãos; os cotovelos apoiados sobre meus joelhos, enquanto eu estava sentado em uma poltrona desconfortável, se bem isso pouco me preocupasse. A saúde de Bella estava em primeiro lugar, o topo de minhas prioridades, agora e sempre.
 
 
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