30 de jul. de 2013

FANFIC: O Anel de Noivado — Capítulo 03 ∞ Desavenças


Senti o meu estômago revirar tão logo senti os meus cabelos revoltosos tomarem meu rosto por completo, mas a razão não era propriamente essa. A vez que o seu carro pedia uma marcha diferente, eu via James fazer o solicitado com extrema agressividade, o que me deixava um tanto desesperada. Eu ainda não havia entendido muito bem o porquê de ele ter dispensado seu motorista em pleno sábado, mas de qualquer forma, eu sabia de longe que aquela não fora uma boa ideia, afinal ele parecia ansioso demais para pisar o seu estado novamente.

Durante aquela viagem até às origens de minha família, James contou-me certas coisas que me deixaram com medo de nossa proximidade, devido a semelhança de suas histórias. Uma delas, foi o fato de sua mãe ter nascido em uma cidadela dentro do Condado de Sussex, assim como Vernon Valley o era, e tão logo mudou-se para Nova York quando foi à Universidade e por lá conheceu aquele que seria, mais tarde, o pai de seu filho. Então, no final das contas, James nascera em Nova Jérsei porque fora uma exigência de sua avó.

Mas James falando a história de sua família e o porquê de seu nascimento naquele estado não melhorava em nada o meu enjoo; só piorava a cada freada dada por aquele sujeito. Além disso, saber que nós tínhamos muito mais em comum do que um simples emprego me fazia sentir cada vez mais trêmula. Era naqueles momentos que eu deveria contar com uma amiga para me dar conselhos sobre o homem, mas eu sabia que as únicas pessoas com quem eu deveria contar um pouco – minha prima e minha irmã – estavam fazendo de tudo para que James e eu nos uníssemos, o que deixava a minha mente cada vez mais confusa e cheia de tanto tentar avalia-las. Elas, de fato, queriam unir-me a James e deixar o caminho livre para Isabella e Edward ou deixar o meu primo com o ciúme a flor da pele e fazê-lo esquecer sua futura noiva apenas para ficar comigo? Irina e Alice estavam prontas para me deixar o mais confusa possível.

O fato de ele tocar a minha coxa com a mesma mão que deveria estar segurando o volante ou a marcha e me acordar de meus devaneios me fez querer saltar daquele carro. A bile pareceu invadir a minha boca quando eu vi que estávamos a mais de cento e cinquenta quilômetros por hora.

— Desacelera a porra desse carro, James, pelo amor do santo Deus, se você acredita que ele existe! — eu protestei, quase gritando, abrindo as janelas ao meu lado, percebendo que enquanto o vento vinha da janela dele, eu estava ligeiramente melhor. — Eu estou realmente enjoada e eu tenho certeza de que você não quererá o seu belo carrinho totalmente sujo por conta de uma direção perigosa, ou quererá?

Ele desviou rapidamente o seu olhar para mim e viu que eu não estava brincando em relação a suas aventuras perigosas em meio a uma autoestrada, optando, logo em seguida, a voltar a observar a estrada em nossa frente e em diminuir a velocidade de seu carro até chegar a uma velocidade que não me deixasse irritada e enjoada o suficiente.

— Fiquei surpreso com você agora, Tanya — ele disse, voltando a observar-me. — Eu jamais imaginei que você tivesse medo de alta velocidade. Isso não parece ser o seu feitio. Ao que parece, você é extremamente corajosa, não?

Rejeitei o seu comentário e fitei a estrada a nossa frente, ficando um pouco mais feliz quando vi uma placa conhecida indicar que a poucos metros estaríamos entrando na cidade que deu origem a minha família. Fiquei extremamente feliz por isso, mas estava cheia de certeza de que não voltaria a Nova York com James ao meu lado; possivelmente, eu pediria carona a meus pais apenas para não ter que ver a cara cheia de deboche que ele fazia quando pegava o volante. Eu deveria imaginar que essa era uma reação típica dele, filhinho de papai que ele era.

— Ok — James disse, quando aproximava-nos do pequeno centro da cidade —, eu peço-lhe desculpas novamente, Tanya. Eu não conseguiria imaginar que você, sendo quem é, tivesse medo de uma direção perigosa.

— Ao menos, há um ponto positivo nisso — eu falei, tentando soar o máximo debochada possível —: chegamos em menos de uma hora em Vernon Valley, o que me deixa para lá de satisfeita, se é isso o que você quer saber.

Naquele momento, eu quis completar a minha frase falando ainda mais ironicamente que o ponto negativo de toda a história era que eu estava com ele, além de ele ter, possivelmente, pegar algumas multas, se bem eu duvidasse que ele ligasse sobre isso, já que o dinheiro e o suborno, na nossa área, jamais era um problema, ainda mais se se tratasse de uma pessoa não tão correta quanto James. Eu, certinha em excesso, jamais precisara recorrer a tanta ilegalidade para manter-me, mas conhecia pessoas que precisavam disso em suas vidas para continuar fora das cadeias; James era uma delas e eu detestava ter que saber disso.

As demais pessoas não sabiam sobre ele o mesmo tanto que eu sabia. Nem sequer desconfiavam que por trás daquele rosto belo, havia uma mente insana e sádica o suficiente para tomar decisões sem sequer desconfiar o que se passava na mente de sua parceira, que, no momento, era eu. Isso deixou-me nervosa repentinamente e aquele nervoso me deixou com a boca seca em excesso. Eu nem quis pensar nisso.

— Para onde vamos agora? — ele perguntou-me, finalmente.

— Não é você o sabichão? Cadê o seu GPS, meu amor? — falei ironicamente, cruzando os abraços a frente de meu corpo como se fosse a coisa mais simples do mundo.

— A dona da cidade é você, então é o mínimo que você deveria saber.

— Eu posso chegar lá facilmente, inclusive caminhando.

— Vá, então.

Eu não me poupei. Soltei-me de meu cinto e abri a porta rapidamente, quando fui barrada pelos braços fortes de James, que fecharam o veículo novamente. Nisso, eu percebi que sua intenção era, inteiramente, a de me irritar, quando eu estava buscando levar tudo ao mais extremo possível.

— Não acredito que, de fato, você será extremista, Tanya.

— Se você não facilita nada, James, sim, eu serei — falei, quase sibilando, se isso fosse totalmente possível.

— Eu não facilito nada? — perguntou-me, com um tom de estranheza, mas logo percebi que era teatro de sua parte. — Você não facilita nada, Tanya! Primeiro quer ser exigente, depois acha que é a dona da casa e agora acha que é a dona do meu carro! Vê se eu posso com uma coisa dessas! Deve ser por isso que até hoje não tem ninguém! Porque é uma desgraçada mandona. Os homens devem fugir de você por ser quem é, primeiramente, e a posteriori, por acharem o quão mandona você é!

Daquela vez, eu fui obrigada a me desvencilhar de seu braço e abrir a porta, sem me importar se as minhas coisas estavam ou não em seu porta-malas. Dei de ombros e comecei a caminhar, dando graças a Deus por estar com tênis extremamente confortáveis enquanto andava por aquela estradinha de asfalto quente que guiava a qualquer uma das diversas fazendas existentes naquela região. Para a minha sorte, a fazenda de minha família não era a mais afastada dali, então comecei a caminhar o mais rápido que eu podia, para me ver o mais longe possível de James, pois eu tinha certeza de que ele me seguiria, já que ele não perderia a oportunidade de atrapalhar o restante do meu já tão belo dia. Por isso, eu xinguei mentalmente a minha prima por sugerir uma coisa tão obscena da minha parte e eu, simplesmente, não ter me afastado de sua opinião. Essa era uma coisa ridícula.

Mas não consegui me manter longe de James por tempo o suficiente, por mais que tentasse e quisesse. Ao longe, eu ouvi seu BMW subir a estrada asfaltada, parando o carro quase a minha frente, na tentativa de barrar-me e evitar que eu continuasse a andar em direção a fazenda de minha família. Então, como se não simplesmente bastasse dar-me mais algumas sessões de frustrações gratuitas, ele saiu de seu carro e fechou a sua porta com extrema rapidez. Eu, simplesmente, ignorei suas ações, desvencilhei-me de seu carro e tornei a caminhar, por plena rebeldia adolescente, mesmo que já estivesse com mais de trinta anos. Eu só sabia que queria me ver longe de James o quanto antes.

— Tanya… — ele chamou.

Ignorei-o e continuei a andar com mais rapidez que anteriormente, sentindo, dessa vez, o suor rolar por minha face, mas não quis dar-lhe o bel-prazer de me ver naquele estado.

Não demorou muito, ele me alcançou, atingindo o meu braço com extrema fúria e me deixando com raiva de sua pessoa. Gostaria, apenas, que ele me deixasse em paz com meus pensamentos e me deixasse relaxar, mas eu não conseguiria, ainda mais no que se tratava de uma pessoa tão insistente quanto James, que me tomara de uma forma tão agressiva quanto aquela.

— Tanya… — ele disse, entredentes.

— Me deixe em paz — eu tentei protestar, igualmente entre dentes.

— Volte para o carro — ele falou, ignorando-me por completo.

Eu tentei puxar o meu braço, por causa do seu aperto, mas em resposta ele apertou ainda aquela região, deixando-a prontamente dolorida. Isso me deixou com os sentimentos feridos por deixar um homem tomar o domínio sobre mim, quando fora ensinada por meu pai que isso jamais deveria acontecer, ao que minha mãe estendera que tal situação não deveria acontecer nem dentro nem fora dos tribunais; acho que naquele momento, a situação só se tornava cabível ao meu local de trabalho, já que eu não conseguia tomar muito bem o controle de minha vida pessoal.

— Você está me machucando, James — eu falei, travando a minha mandíbula e, assim, eu gritei ao léu, sabendo que dificilmente alguém me ouviria no meio do nada: — E você não manda em mim.

— Só estou falando para você retornar ao carro, Tanya — ele falou, igualmente entredentes.

— Eu já lhe disse que você não manda em mim, James Gigandet — eu repeti e dessa vez, tentando algum auxílio do meu braço livre, tentei empurrá-lo para que o sangue pudesse circular em meu membro que era apertado, mas sem sucesso da minha parte, ele também tomou essa parte de meu corpo, apertando tão habilidosamente quanto fazia com meu outro braço, e isso me fez gritar: — SOLTE-ME!

— Tanya, por favor, não me faça me frustrar com você!

— SOLTE-ME! — eu gritei ainda mais alto, a plenos pulmões, sentindo a minha garganta arranhar e fazendo-me tossir em seguida.

— Qual é o problema em você tentar ouvir a minha opinião sobre o que é melhor a você? Esse lugar não é seguro para você, Tanya! Talvez, quando e se você chegasse a parte alta desse ambiente, você estivesse mais segura, mas aqui não parece ser um lugar seguro o suficiente para se confiar.

— O que? — eu tentei rir, mas o que saiu no lugar daquilo foi, simplesmente, a tosse novamente. — Nesse meio de mato, o que será que pode acontecer? Alguém surgir e tentar me estuprar? — eu falei ironicamente, relembrando, automaticamente, através da besteira falada, um fato que deveria ter sido esquecido no passado mais remoto de minha vida.

A partir daquele momento, caçoei de sua cara porque conseguir dar uma risada alta, mas a raiva tomou-o e, assim, ele acabou agarrando os cabelos de minha nuca, beijando-me arduamente logo em seguida. De nada adiantou eu tentar me afastar dele com brutalidade, pois sabia, de longe, que ele era mais forte que eu. Protestar fora dos Tribunais, no que era tocante a James, significava que eu era ridícula e que sairia perdendo em uma guerra em que o mais forte – e não o mais inteligente – sairia ganhando; e eu, por ser a menor parte, sairia dolorida por conta do seu modo quase selvagem de me segurar, como se ele fosse um domador e eu, o seu animal de dominação, que logo seria exposta a uma plateia, que, no caso, poderia ser encarada a minha família. Eu sabia o quão péssimo isso era, mas eu sabia que cada segundo de nossas vidas que se passava era capaz de nos deixar cada vez mais atados um ao outro; isso era péssimo.

Fiquei surpresa quando ele permitiu que nos afastássemos, mas ainda mais admirada quando ele pronunciou-se, os olhos preenchidos com lágrimas que em pouquíssimos instantes seriam capazes de rolar por sua face:

— Sinceramente, eu não entendo. Por que você faz isso comigo? Como você faz tudo isso comigo e acha que tudo sempre será maravilhas? Por que me deixa tão louco, tão puto da vida comigo mesmo, como se eu fosse o único errado da história? Você também tem a sua parcela de culpa em tudo isso, Tanya! — ele passou a mão direita em seu rosto, como se tentasse esconder a sua máscara frustrada de mim, mas não conseguindo, secou suas lágrimas, tentando se contentar. — Eu gostaria de compreender melhor sobre sentimentos, mas eu nunca tive uma experiência como essa antes. Estou frustrado comigo mesmo, porque a única coisa que estou fazendo ultimamente é pensar em você e isso não é de hoje. Todos os dias, desde o primeiro momento em que te vi, eu fiquei imaginando como seria ter você perto de mim, como seria tocar-te ou beijar-te, mas agora que eu sei como é essa sensação, eu não quero e não vou mais esquecer. Você, nem de perto, é como as outras que estiveram comigo.

Senti o meu estômago doer com aquela confissão e, ao mesmo tempo, tive a breve impressão de que meu coração saiu de seu lugar habitual e foi parar bem perto de minha boca. Não era como se ele estivesse mentindo, porque eu conhecia um mentiroso, ainda mais quando este era um homem. E de alguma forma, sabia que se eu era uma péssima mentirosa, James era, ao menos, três vezes pior que eu. Era até um pouco frustrante encontrar nexo naquela história, mas eu sabia que ali havia sentido suficiente; talvez James sentisse apenas alguma atração forte demais por mim, mas apenas não conseguira identificar isso; talvez o que ele sentia por mim fosse tão forte que se assemelhava ao que eu sentia por Edward e se assim fosse, eu estava, literalmente, perdida e precisaria de certo tempo para processar essa situação.

Ao que parecia, ao menos, James não parecia ser capaz de brincar com sentimentos. No que se tratava disso, ele parecia ser um tipo de sujeito que deixava tudo sempre as claras, o que não foi o que aconteceu naquele momento.

De alguma forma, eu precisava contornar aquela situação. E mesmo não querendo, eu fui, ao meu máximo, fria:

— Entre no carro. Precisamos estar na fazenda em breve.

Seus olhos piscaram com força quando eu disse tais palavras e, naquele momento, vi uma lágrima correr-lhe o rosto com tanta rapidez que nem mesmo ele foi capaz de escondê-la. Eu não entendia muito bem o porquê, mas por alguns instantes eu desconfiei que não conhecia James Gigandet o suficiente, ao menos não tão suficientemente quanto achei que conhecia. Não conseguia imaginar porquê, mas eu também, até então, desconhecia a sua veia sentimental, mas, de qualquer forma, agora que conhecia aquele lado de sua personalidade, eu não conseguiria me desvencilhar daquilo tão facilmente, com ou sem ajuda de Alice ou Irina, que me colocaram naquela situação. E algo dizia-me que se só se dependesse dele era que eu conseguiria escapar daquela situação.

Daquela forma, adentramos o carro novamente, e seguimos até a fazenda de minha família, onde sabia que boa parte dela já estava presente.

Aquilo deixou-me, de certa forma, ansiosa, mas de uma outra forma, nem tanto. Estava ansiosa para saber o que seria daquele jantar de noivado, que começaria em breve, e para saber, de fato, se Isabella Swan demonstraria quem era de fato. Eu poderia muito bem apostar com alguém que, naquela noite, a sua máscara de boa namorada estaria pronta para cair, se eu tivesse alguém para fazer tal duelo, afinal algo me dizia que ela não era exatamente isso que demonstrava aos Cullen.

De qualquer modo, eu não conseguiria me prender aquilo por muito tempo. Saber que James sentia algo por mim, mesmo que nós dois não soubéssemos exatamente o que era, me deixava um pouco exasperada e ansiosa ao mesmo tempo. Era muito provável que por causa disso, eu sequer desse atenção àquele jantar, que não deveria receber muito de minha atenção de qualquer forma, com ou sem James envolvido na história. Mas ele me deixou preocupada por ele seguir o restante da viagem totalmente calado, recebendo apenas as minhas instruções de como deveríamos chegar até a casa principal. E eu me senti mau por assim termos seguido até o lugar em que nos esperavam; repentinamente, eu também me senti mal. Talvez, ele simplesmente estivesse digerindo tudo, assim como eu deveria estar, mas não fazia.

Saltei do carro apenas para empurrar um enorme e manual portão de ferro, o único que continuava precisando de ajuda para se deslocar, enquanto os demais três eram completamente automáticos, recebendo a ajuda sutil de um controle pequeníssimo, e esperei que James aproximasse o carro antes de voltar a fechar aquilo quando percebi que havia mais dois carros que seguiam aceleradamente atrás de nós: uma Mercedes quase por totalidade preta – apenas por alguns detalhes em tom prata no para-choque –, inclusive no se dizia à película escuríssima, e um Grand Cherokee Turbo, da Jeep. Ambos eram carros que eu conhecia bem e sabia suas marcas ao longe, já que conhecia seus donos e devia a eles o fato de eu conhecer um mínimo que fosse sobre carros.

James falou, assim que passou o grande portão, para mim, com a sua janela ligeiramente baixa:

— Quem são esses? — perguntou, em tom de confusão.

— Meus tios e padrinhos, Carlisle e Esme Cullen, e logo atrás estão meu primo, Emmett, com a sua esposa, Rosalie.

Imaginei, por um momento, que saber disso não adicionaria nada a vida dele. Na verdade, saber apenas quem eram os donos daqueles carros, de fato, não mudaria nada em sua vida, exceto o fato de eles serem um bom admirador de veículos, já que também o era. Então, James seguiu um pouco mais a frente, deixando seu carro no acostamento, para que os outros carros fossem capazes de seguir com habilidade por aquela estrada de asfalto que eu sabia, muito em breve, se tornar uma estrada cheia de paralelepípedos, mantendo o mesmo ambiente existente na época em que meu avô ainda era vivo. Minha avó desejava manter daquele jeito e eu tinha certeza que suas filhas assim deixariam por um longo tempo, mesmo após a sua morte, por adorarem aquele estilo, único em Vernon Valley, principalmente quando as estradas que levavam as demais fazendas já começavam, em sua primeira porteira, a ser de terra batida.

“Há pontos positivos em relação os paralelepípedos”, eu ouvia constantemente minha mãe dizer. “Em relação ao aquecimento, por exemplo, nós não precisamos nos preocupar, pois eles esquentam bem menos que o asfalto, caso um dia desejemos coloca-los em Mount Vernon. Além disso, o pavimento da Capela Sistina e da Praça Vermelha são feitas todas em paralelepípedos.”

Péssima comparação a da minha mãe, eu cria. E péssimo também era o nome dado aquela propriedade pelo meu avô. Ele, por fã de George Washington, colocou aquele nome ao ambiente apenas para fazer uma referência direta ao ex-presidente e sua propriedade na Virginia, assim que adquiriu aquele lugar e se casou com minha avó. Não por menos, com o tempo, vovô aceitou que aquele nome se casava perfeitamente com o nome daquela cidadela e, assim, não trocou mais, já que o nome daquele lugar foi aceito rapidamente por suas filhas quando elas estavam crescidas.

Adentrei o carro apenas quando tornei a fechar aquela porteira, já vendo os carros há quase quinhentos metros à frente, raciocinando o quanto eu estava errada se optasse a ir a pé até aquele lugar. Ficaria um bom tempo em o sol escaldante de meio-dia, mas se dependesse totalmente de meu orgulho, eu seria capaz de enfrenta-lo com honra, sem me importar nenhum pouco.

Levamos mais cinco minutos de carro, apenas, para chegar até a casa principal, e eu tinha certeza que após aquela viagem cheia de conflitos, James queria tornar a acelerar o carro para chegar mais rapidamente a algum lugar para descansar um mínimo que fosse. Não por menos, eu também estava cansada e queria chegar o quanto antes em algum lugar para lavar, ao menos, o meu rosto. De qualquer forma, achava que ele estava disposto a me compreender o meu medo de velocidade.

Tudo parecia perfeitamente igual ao que eu tinha visto da última vez que estivera ali para visitar a minha avó, a menos de um mês atrás, exceto pelas decorações com flores e tecidos brancos, tomando já a parte da frente da casa. Meu estômago pareceu fechar-se com o nojo que eu senti daquilo, mas eu tentei ao meu máximo esquecer sobre o assunto e abri a porta do carro antes mesmo que James, já no lado de fora do carro, pudesse fazê-lo.

Foi assim que eu o percebi, quieto no seu canto, com os seus olhos azuis me fuzilando da mesma forma de sempre, o que sempre me deixara frustrada por não saber se ele estava apenas esperando por mim ou se ele queria expressar por mim algum tipo de desejo escondido. Esse era o poder presente em seus olhos fascinantes. Edward sempre me deixara confusa, senão de cabelos para o ar, quando resolvia deixá-los revoltos para irritar-me. Deveria ser, até, uma coisa completamente infantil achar que ele queria alguma coisa comigo, mas eu não conseguia imaginar outra situação senão ele querer nos aproximar e me deixar cada vez mais confusa.

Tão logo eu fechei a porta, quase sem força, segui para a parte do porta-malas, onde James já esperava-me, pois viu que eu não aceitara a sua gentileza em abrir a porta. Então, Edward chamou-me ligeiramente, tão baixo que eu tinha certeza que James não fora capaz de entender.

Quis ignorar novamente o meu primo, mas eu tinha a certeza de que ele não se deixaria passar batido: como imaginado, ele ergueu-se da poltrona que era constantemente ocupada por nossa avó e começou a seguir em minha direção, saindo da proteção do sol com os braços cruzados a frente de seu corpo, rejeitando a imagem solidária que trazia sempre consigo. Eu não era uma pessoa munida contra Edward Cullen. Meu corpo reagia de uma forma quase impossível a ele, mas não seria dessa forma daquela vez.

Antes que ele pudesse se aproximar suficientemente, coloquei minha mochila em minhas costas e peguei a alça da mochila de rodinhas fortemente com a minha mão direita, ao que James pegava a sua única mala com a mão esquerda, para fechar o porta-malas com a sua mão livre.

De qualquer forma, rejeitei qualquer peso em minhas costas e assim que vi James totalmente livre, o peguei de surpresa. Nossos lábios colaram-se um no outro rapidamente, ao que ele logo correspondeu, abrindo os meus lábios com os seus para invadir a minha boca com a sua língua. O hálito de menta estava ali tal qual estivera anteriormente e o seu desejo me deixou ainda mais desperta, pronta para reagir as suas ações.

— TANYA! — ouvi Edward gritar ao longe, mas sua voz ficada cada vez mais perto a medida que ele falava o meu nome, o que me fez, prontamente, me afastar de James. — AFASTE-SE JÁ DESSE SUJEITO! ALIÁS, O QUE ELE ESTÁ FAZENDO AQUI!?

— QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA FALAR COM A TANYA DESSA FORMA? — James gritou a mesma medida, fazendo-me, prontamente, colocar-me entre eles. — ELA NÃO É NENHUM BRINQUEDO SEU PARA VOCÊ TENTAR MANIPULÁ-LA!

— QUEM SOU EU? — Edward gritou novamente, no mesmo tom em que começaram aquela discussão. — FALE PARA ELE QUEM SOU EU, TANYA! VAMOS, FALE! OU VOCÊ ESTÁ COM MEDO DELE E QUER QUE EU FALE QUEM SOU EU?

A medida que eles se aproximavam, eu acabei sendo obrigada a largar a minha mala de mão no chão para tentar aumentar o espaço entre eles com os braços abertos.

— Você! Você é meu primo e não meu dono, Edward. Então, você não tem que decidir nada por mim, pois sou maior de idade, se você já se esqueceu disso.

— O QUE, TANYA?! — Edward gritou quase perto dos meus ouvidos.

— Mano, eu não acredito que ela disse isso — eu ouvi Emmett, irmão de Edward e Alice, falar para alguém que estava fora da minha visão enquanto eu ainda continuava tentando me por entre os dois, sem mais forças para continuar com os braços estendidos.

A cada segundo que se passava, meu coração parecia bater mais e mais rápido devido à proximidade dos dois, que pareciam raivosos ao ponto de quererem se matar a minha frente.

— POR QUE VOCÊS DOIS ESTÃO JUNTOS!? — Edward perguntou, seu rosto ficando vermelho pelo nervosismo que estava sentindo.

— Isso não é da sua alçada, Edward — respondi-o.

— POR QUE VOCÊS ESTÃO JUNTOS, TANYA!? — ele tornou a repetir, cada vez mais alto, o que me deixava preocupada, pois eu nunca vira Edward daquela forma.

— Eu já disse que isso não é importante para você, Edward — eu tentei falar, mas minha voz saiu abafada, pois a cada instante eu o sentia mais próximo de mim, olhando-me do alto, já que ele era mais que cinco centímetros mais alto que eu. — E faça o favor de se controlar, pois eu não estou gritando com você.

— NÃO ESTOU GRITANDO!

— Ah, não?! Porque ao que me parece, você não está gritando… ESTÁ BERRANDO! Pare já com isso agora, Edward! O que eu faço ou deixo de fazer, há um bom tempo, não é da sua alçada, mas já que você está querendo tanto saber: sim, James e eu estamos saindo, e sim, nós já dormimos juntos, e sim novamente, eu estou pouco me importando para o que você ou qualquer outro pensa em relação a isso. A vida é minha e eu faço dela o que eu bem entender, porque simplesmente, se isso acabar mal, quem vai sofrer será eu e tenho certeza de que ninguém se rebaixará para dar-me conselhos, nem mesmo você, de tão cego que está por causa da sua noivinha. Eu me afastei dos Cullen, mas principalmente de você, porque ela foi a causadora de tudo isso, se é que você não é capaz de perceber isso, Edward! — eu suspirei alto antes de pegar as mala que caíra no chão e quando tornei a me erguer, eu continuei, tentando poupar a minha voz ao máximo: — Então, a única coisa que espero de você, por um momento que seja, é que trate James bem se você ainda se importa um mínimo que seja comigo.

Eu ia começar a caminhar em direção a grande portaria da casa, onde estavam Alice e Jasper, Emmett e Rosalie, Carlisle e Esme e, por fim, meus pais, ao lado de Kate e Irina. A vergonha tomou a minha face, mas logo eu senti o meu rosto não queimar apenas por causa dessa sensação, mas também pela raiva que preenchia o meu corpo. Aquilo foi totalmente capaz de tirar-me o equilíbrio, mas o som ensurdecedor do baque de um dos corpos atrás de mim sobre o porta-malas foi ainda mais desestabilizador e o urro de dor me fez virar-me no mesmo instante.

Sangue lavava o rosto de James, pois seu nariz fora deslocado de meu lugar real quando sua face tocou com força o porta-malas fechado. Isso tirou-me do sério e fez-me observar Edward com os olhos em chama.

Realmente, eu tentei buscar em minha mente o motivo de meu primo ter feito aquilo com James, mas isso só me deixou um pouco tonta. Eu não conseguia entender o motivo de Edward ficar tão desequilibrado em relação ao meu novo relacionamento e eu. De qualquer forma, aquilo não deveria ser da alçada dele da mesma forma que ele dissera certa vez que não era da minha alçada ficar intrometendo-me em seu relacionamento com Isabella. Eu não sabia muito bem o porquê, mas repentinamente achava que aquela mulher não era merecedora de tanta atenção assim e merecia a minha rejeição. Mas ver Edward desequilibrado daquela maneira me deixou confusa.

— O QUE VOCÊ TEM NA CABEÇA? — eu gritei para Edward. — QUE PORCARIA, EDWARD! PARE DE SER INFANTIL E AJA COMO UMA PESSOA ADULTA! EU SEQUER SEI O MOTIVO DE TANTA… IDIOTICE!

Eu o vi engolir seco antes de dar as costas para mim e rumar para dentro do casarão, dando de ombros para aqueles que barravam o seu caminho, nossos familiares.

— Vamos limpar isso, James — eu disse, pegando a camisa branca que estava amarrada em minha cintura e dobrando-a para que servisse de apoio para estancar o sangue em seu rosto e ali, rapidamente, ele colocou, encharcando prontamente o pano com seu sangue.

— Deixe-me ver seu rosto — eu ouvi a voz polida de meu padrinho logo atrás de mim, ao que James logo afastou o pano que eu o quase obrigara a colocar ali. — Sorte sua não ter quebrado o nariz, rapaz. Vamos dar um jeito nisso. Venha comigo.

Fiz menção em segui-los, mas fui barrada pelas mãos de minha madrinha, que estava logo atrás de mim e que segurou firmemente meus ombros, impedindo-me de andar.

— Guarde suas coisas em seu quarto enquanto Carlisle dá um jeito no ferimento de James, minha querida, então tome banho e desça para se juntar a nós no almoço, se você estiver com vontade, depois dessa… situação embaraçosa.

Esme tinha sua mania de amenizar as coisas, por tão amorosa que era, mas naquele momento eu tinha certeza de que ela sabia a dimensão daquela situação e não estava nenhum pouco agradada sobre aquilo, ainda mais no que condizia ao comportamento inexplicável de seu filho há tão pouquíssimo tempo.

— Tudo bem, então.

Dei de ombros, apertei a minha mala em mãos e segui pelo hall sem dar nenhum sinal de amizade para meus expectadores, e subi as escadarias sem me importar se o peso em minhas costas era grande ou não. Segui para o meu quarto, o último do corredor e abri a porta, sentindo o meu corpo dizendo-me que deveria parar de ser idiota, pois minhas costas não suportavam tanto peso, quando notei que não era apenas eu naquele ambiente.

Edward estava sentado em minha poltrona favorita, que eu ganhara para colocar em meu apartamento em Nova York, mas achei que ficaria muito melhor em meu quarto em Mount Valley. A posição de meu primo não agradou-me em nada, pois ao que aparentava, ele estava suficientemente aflito, sendo que seus cotovelos estavam apoiados sobre suas coxas e sua cabeça estava entre suas mãos, que apertavam com braveza os fios do seu cabelo. Entretanto, ele logo desfez a sua posição quando notou que eu estava dentro do quarto, após fechar a porta, e veio em minha direção; entretanto, fiz questão de fazer uma barreira sonora entre nós:

— Eu não quero falar com você, Edward. Então, faça-me o favor de nem tentar se aproximar de mim porque eu não vou aceitar as suas desculpas, pois elas sempre aparecem quando você faz algum tipo de burrada e se eu aceitar suas desculpas, você jamais aprenderá.

— Tanya, eu não vim pedir-lhe desculpas, porque eu me lembro muito bem o que aconteceu da última vez que eu as pedi. Como você fez questão de resumir, eu não vou aprender se você me desculpar. De qualquer forma, eu não vim lhe pedir desculpas, mesmo porque acho que não sou digno delas.

— Então o que você veio fazer aqui? — perguntei entredentes, ainda sentindo raiva dele pelo que fez com James.

— Vim lhe falar que você conseguiu exatamente o que queria de mim…

— Eu não queria nada de você, exceto que você me desse o mínimo de atenção que me dava antes, como você sempre fez, mas parou de fazê-lo por causa dessa sua namoradinha idiota. Sempre soube a índole dela, mas você jamais quis ouvir-me. Conheço essa sujeita há tempos.

— Se eu não te conhecesse, se você não fosse o livro aberto que é, eu poderia até acreditar nisso, mas eu sempre percebi os seus sentimentos por mim, Tanya. Tentei até fugir do que eu sentia por você e fiz de tudo para que Alice compactuasse com isso, o que, pelo visto, ela conseguiu, mas agora eu não consigo mais.

— Ficou louco? — perguntei, entredentes. — Do que você está falando?

— Estou falando que você conseguiu exatamente o que queria, Tanya! Que eu confessasse meus sentimentos a você e que confessasse que eu fico com ciúmes todas as vezes que te vejo com um cara diferente, seja ele apenas uma amizade ou um caso que tem. Sim, eu estou morto de ciúmes.

— O quê? Como é que é? Eu acho que eu não estou te entendendo muito bem… Que insanidade é essa, Edward?

— É isso mesmo que você está achando: eu te amo e estou morto de ciúmes de você em relação a James. Não quero que você fique com ele e estou, inclusive, disposto a terminar esse namoro sem pé nem cabeça que estou tendo com Isabella. Eu não me vejo com ela por muito tempo.

Eu suspirei fortemente e falei alto, apontando para a porta:

— Saia já do meu quarto, Edward! Quem você pensa que eu sou? Co-como você é idiota! Acha que pode brincar com os meus sentimentos e achar que depois terá uma recompensa!? Pois se for dessa forma, você está seriamente enganado.

Por um momento, eu imaginei que ele, de fato, faria exatamente o que eu estava mandando-lhe fazer, mas meus pensamentos em relação a Edward estavam completamente errados. Ele, de fato, seguiu até a porta de meu quarto, mas ao invés de sair daquele cômodo, girou a chave da porta e, em seguida, tirou-a dali.

— Edward, pare já com isso… — alertei-o. — Se você não parar, eu gritarei. Estou falando sério: eu estou com medo de você.

Suas mãos tomaram os meus ombros de um modo poderoso, massageando toda a sua extensão, como se aquela fosse uma tentativa bem sucedida de tentar me acalmar e eu estava ficando com raiva de mim mesma por ser sempre tão vulnerável a ele. Era terrível o fato de ele brigar com James, mas mais terrível era o fato de ele, facilmente, conseguir contornar tal situação de uma maneira tão simples.

— Eu não consigo suportar a ideia de você ter dormido com outro homem, Tanya. Fico apavorado só de pensar nessa situação, principalmente por saber que você sempre esteve destinado a mim e eu sempre rejeitei essa ideia.

— Pare com isso, por favor, Edward.

Eu senti, em minha voz, a suplica para que ele fizesse exatamente aquilo que eu não lhe pedia. Minha voz suplicava para ele continuar, enquanto eu me sentia uma pequena parte do meu corpo queria expulsá-lo de perto de mim. Era impossível resistir a ele.

Seus lábios tomaram o meu pescoço e meus ombros, após deslizar delicadamente a camiseta regata que eu usava naquele momento.

— Eu quero você, Tanya, e eu preciso de você.

— Edward, pare com isso, por favor — eu disse, segurando as minhas lágrimas. — Você irá tomar uma mulher como noiva em algumas horas e com isso eu não vou conseguir lutar. Eu conheço você bem o suficiente para saber que você não desistirá desse noivado e sei tão bem disso que você me quererá, se ainda quiser depois disso tudo, como a outra. Não suporto uma coisa dessas. Além do mais, nós não podemos ter nada ainda, não sem eu falar para James que o que tivemos acabou hoje e, também, se você não terminar com Isabella; se fizemos algo antes disso, estaremos agindo erroneamente e, infelizmente, eu sei que você não terá coragem o suficiente para terminar com sua namorada.

Com aquela minha prece, ele soltou-me. Eu sabia o quão certo ele era, então fazer o que eu fizera significava o mesmo que deixa-lo com consciência pesada. Ele não aceitaria jamais dormir com alguém se ele estivesse em um relacionamento; isso não significava que ele não era homem o suficiente para ficar com uma mulher mesmo estando compromissado – isso era algo típico de nossa família, honesta em excesso para deixar-se guiar por uma situação como essa.

— Eu vou conversar com Isabella ainda hoje e nós não noivaremos. Eu estou cansado de tentar soar certinho demais e rejeitar aquilo que realmente me faz bem, e você, Tanya, é uma das coisas que me fazem bem. Isabella nunca adicionou nada em minha vida. É, é isso que eu vou fazer, de fato.

Assim, ele me fez girar os cento e oitenta graus para vê-lo. Meus olhos marejados deixavam a minha visão embaçada, mas ainda assim eu conseguia vê-lo sorrindo para mim. Então, ele secou as lágrimas que começavam a rolar de meus olhos e depositou um beijo cálido em meus lábios, o que fez meu coração bater tão fortemente que eu poderia dizer que, não metaforicamente, ele saia pela minha boca.

Podia até ser uma mentira de Edward, mas se assim fosse, ele mentia muito bem.

— Eu te espero lá embaixo para o almoço — ele falou, tão logo nos separamos.

Então, ele seguiu em direção a porta novamente, girando a chave ali e saiu após abri-la, fechando-a em seguida. Naquele mesmo momento, eu fiz questão de trancar aquela abertura ou eu seria incomodada novamente em poucos minutos.

Foi então que desatei a chorar, pensando no inferno em que me meti. Eu deveria ser má religiosa que Deus resolvera me presentear com a confusão em minha mente. E algo me dizia que tal situação não passaria tão rapidamente quanto eu desejava que passasse. Era complicado demais, ao menos para uma mente já tão confusa quanto a minha. E não haveria almoço que desceria bem para o meu estômago depois daquilo tudo.
 
 
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